Música

“After a Storm comes a Calm” é o primeiro álbum do DJ Lagoa

Ouça agora o projeto e leia a entrevista completa com o produtor goiano

DJ Lagoa lançou, nesta terça (24/08), seu primeiro álbum oficial intitulado “After a Storm comes a Calm”. O trabalho é um álbum-conceito composto de oito músicas no total, um mix de emoções e sentimentos, e conta com as participações de PelicanoF_rlan e FaOut. O projeto será lançado pela TangerinaMusic, a maior gravadora de Lo-Fi do país, e será distribuído pela DashGo/Downtownmusic.

Comecei a produzir o álbum em um momento muito difícil e conturbado dentro dessa pandemia, e na medida com que as coisas iam se ajeitando, as produções começavam a tomar um ar mais calmo. Assim surgiu o nome do álbum e eu tenho certeza que o ouvinte vai conseguir sentir isso através das músicas”, comenta.

O lançamento vem pra coroar o grande momento de Lagoa. O goiano está entre os 10 produtores brasileiros mais ouvidos (no gênero Lo-Fi), com mais de 200 mil ouvintes mensais no Spotify — plataforma onde já soma mais de 3 milhões de streams.

After a Storm comes a Calm” foi programado para sair exatamente um ano depois de “Thinking About The Heifer’s Death“, o primeiro EP de Lagoa, que lhe rendeu grandes frutos. É evidente o amadurecimento do produtor entre os dois trabalhos. “Ao lançar o EP, eu mostrei a minha identidade, o meu estilo, e ao mesmo tempo deixei um recado de que eu estava chegando pra ficar. Antes, eu estava apenas me divertindo com remix, agora eu continuo me divertindo, porém fazendo música autoral”. A data também é especial para ele: é o dia do aniversário de sua mãe e também seria o do seu falecido vô.

A Pista entrevistou o produtor goiano sobre seu novo álbum, a influência da pandemia no seu processo criativo e também sobre seu amadurecimento como artista. Não é a primeira vez que conversamos com ele, não deixe de ler nossa matéria sobre Lo-fi, do ano passado, que contou com sua colaboração. Uma boa leitura e uma ótima audição do álbum para você.

Capa feita pelo ilustrador Caue (instagram.com/cauemathia/)

A Pista: Qual é sua faixa favorita desse álbum e como foi o processo de produção dela?

DJ Lagoa: É difícil escolher a favorita, mas ‘Melancholy #2’ que é a faixa 7 do álbum, talvez seja a minha preferida. Eu ainda estava em dúvidas se fazia um álbum ou apenas programava alguns singles para lançar nos próximos meses, porém quando comecei a produzir essa track, eu vi que era o momento para enfim lançar um álbum oficial.

Eu lembro que eu estava no studio produzindo e quando começou a sair essa track, minha esposa veio falando que parecia uma trilha sonora de um filme, e era exatamente a mesma sensação que eu estava tendo naquele exato momento. E mesmo sem bateria, pra mim a track estava completa já, porém sempre ficamos com um pé atrás em lançar uma track sem bateria e foi aí que surgiu a ‘Melancholy #1’, que foi o primeiro single lançado do álbum. Mas, não teve como, tive que colocar as duas, eu não ia ficar feliz em deixar ela sem bateria fora desse álbum, é a música mais inspiradora que já fiz.

A Pista: Como é seu processo para nomear músicas e projeto? A maioria é em inglês, mas tem algumas faixas em japonês nesse seu novo álbum.

DJ Lagoa: Desde o início eu procuro colocar expressões brasileiras, em inglês, mesmo que não existam nessa linguagem. Por exemplo, ‘Viajando na Maionese’ se tornou ‘Traveling in Mayonnaise’ e causou uma curiosidade enorme nos gringos e eu fiz disso a minha identidade. Meu primeiro EP mesmo se chama ‘Thinking About The Heifer’s Death’, que seria ‘Pensando na morte da bezerra’, mas se você pegar, são nomes e expressões que tem TUDO A VER com as produções.

O álbum eu comecei a produzir ele em meio à esse momento turbulento que vivemos e concluí ele em um momento em que estamos começando a ver a luz no fim do túnel, e isso refletiu nas produções. Foi aí que veio a expressão “Após a tempestade vem a calmaria” e pesquisando eu vi que lá fora utilizam ‘After a storm comes a calm’, e assim surgiu o nome do álbum. As duas tracks que tem nome japonês é porque elas carregam elementos orientais nas produções. ‘Kishi Kaisei’, significa ‘acordar da morte’, pra nós, seria tipo ‘ressurgir das cinzas’. ‘Arashi’ significa tempestade. Apesar de estar em japonês, ambas estão ligadas ao conceito do álbum.

A Pista: Qual foi o papel da pandemia na sonoridade desse seu primeiro álbum?

DJ Lagoa: O álbum contem 8 faixas, sendo 4 delas representando o lado ‘Storm’ e 4 representando o lado ‘Calm’, e essa sonoridade reflete o momento da pandemia. Nos momentos em que eu estava parado, sem poder discotecar, em casa o tempo todo, as minhas produções tinham um ar de melancolia, era notório isso. E em vários momentos, liberaram alguns eventos e eu pude voltar a trabalhar, e nesses momentos eu conseguia fazer produções ‘pra cima’, com um astral bem diferente das outras. Mas o mais interessante disso tudo é que todas essas tracks, independente do lado que ela esteja, elas se conversam. Se você ouvir o álbum da primeira à última track, você vai perceber isso. No álbum elas aparecem intercalando, uma storm, uma calm, uma storm, uma calm…

DJ Lagoa discotecando (Foto: Divulgação)

A Pista: O que o Lo-Fi representa pra você na sua vida?

DJ Lagoa: Eu sempre escutei “O Hip Hop salvou minha vida”, e comigo não tinha sido diferente. Quando entrei pro Rap, eu tinha acabado de levar um tombo na vida e foi o Rap que me reergueu. Mas, o que aconteceu com o Lo-Fi foi incomparável. Os últimos meses antes da pandemia, foram os meses que eu mais ganhei com a minha carreira de DJ, e consequentemente, meses em que eu fiz vários compromissos, troquei de carro, comprei equipamentos novos, e de repente BOOM, explode essa bomba nas nossas mãos. Eu me vi desesperado, foram meses dependendo dos meus pais, de alguns familiares por parte de mim e da minha esposa, amigos. Fiz vaquinha, sorteei camiseta de time autografada por jogadores, dei meus pulos. Mas, isso te alivia por algum momento, não por dois anos.

E aí entrou o Lo-Fi, principalmente a comunidade brasileira de Lo-Fi (Lo-Fi Brasil). A gente se uniu, e um fortalecendo o outro, compartilhando conhecimento, fomos expandindo. Aos poucos a grana foi entrando e fui conseguindo me reestabelecer. Hoje o Lo-Fi é o que me faz sonhar e planejar o meu futuro, a discotecagem continua ativa, porém hoje ela está em segundo plano, é um complemento pra mim.

A Pista: O quanto você acha que amadureceu como artista desde seu último EP?

DJ Lagoa: O álbum será lançado EXATAMENTE um ano após o lançamento do EP, no mesmo 24 de agosto, que é uma data especial pra mim pois é o aniversário da minha mãe e também seria o do meu avô se ainda estivesse vivo.

De lá pra cá, eu diria que amadureci 100%. Quando lancei o EP, eu ainda dava meus primeiros passos profissionalmente como produtor, e foi um lançamento independente. Agora, eu já faço parte de uma distribuidora com uma força enorme no meio do Lo-Fi, que é a DashGO/Downtown, e também sou artista da Tangerina Music, que é a maior label brasileira de Lo-Fi. Todo o suporte que eu não tive no meu EP, hoje eu tenho no álbum, além de ter uma bagagem muito maior agora dentro do gênero, com números que sinceramente eu nunca esperei alcançar, são mais de 3.5 milhões de streams no Spotify, com mais de 240 mil ouvintes mensais, isso é loucura cara. SURREAL!

Mas esse amadurecimento não veio só através de números e conquistas, todo esse amadurecimento é fruto de um trabalho que a gente (Lo-Fi Brasil) vem realizando dentro da nossa comunidade. É muito louco você pensar que no ‘mesmo ambiente’ tem produtores que estão começando agora, que não chega a ter 10 streams por dia em uma música, e tem produtores que estão no TOP 3 do país, trocando informações, enviando e recebendo feedbacks. Nós não queremos que seja algo passageiro, e por isso estamos levando tão a sério esse papo de comunidade (que vale uma observação: não tem nem comparação com qualquer outro gênero musical, aqui sim tem uma união).

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