Caio Alves é admirador do futebol ofensivo e associativo, mas sem preterir aquela retranca bem montada. Jornalista e analista de desempenho, ele conversou com A Pista para falar sobre futebol, debate e qualidade de jogo no Brasil.

Este artigo é um ponto de partida para reflexão e não um fim.
O uso de uma introdução nada pessimista é o reflexo de alguém desiludido com o futebol no Brasil, então neste artigo irei tratar de um dos aspectos em que entendo influenciar ou não, a qualidade do futebol praticado aqui no Brasil: o debate.
Começo citando um tweet do jornalista Caio Alves do BandSports. O tweet não só resume o sentimento de milhões de torcedores que acompanham os meandros do futebol, mas também apresenta a perspectiva de futuro do esporte que mais está presente no imaginário social brasileiro.
Admirador do futebol ofensivo e associativo, mas sem preterir aquela retranca bem montada, Caio Alves além de jornalista, também faz análises de desempenho. Começou a sua trajetória profissional escrevendo sobre atletas de futebol, times e jogos no Footure — Futebol e Cultura e após se destacar por meio de suas análises, ingressou no DataESPN à convite de Renato Rodrigues, comentarista dos canais Disney.
Durante oito meses em que colaborou com o programa de análises estatísticas da ESPN, Caio desenvolveu telas com estudos dos jogos, estatísticas, análises individuais de jogadores e treinadores no famoso campinho tático. Hoje o prodígio auxilia as edições dos programas do BandSports e realiza participações no BandSports Online comentando jogos e notícias do futebol nacional e internacional.
Perguntado sobre a falta de qualidade no debate jornalístico sobre futebol e se isso influencia na qualidade do que é jogado no Brasil e nas decisões tomadas pelos dirigentes dos clubes, Caio pondera que não diretamente, mas existe parcela de responsabilidade, porque quanto mais preparado o jornalista está para entender o jogo, mais ele conseguirá traduzir as respostas do campo para quem estiver o escutando.
“Eu acho que é de suma importância para o jornalista, mas também para o comunicador em geral, entender do jogo para poder passar para o outro lado. Não só ficar nos jargões, nos termos que nós estamos acostumados. Só se fala em intensidade, amplitude e profundidade, mas sem saber exatamente o que significa. Quanto mais o jornalista entende, mais ele faz com que o treinar estude para desempenhar um bom trabalho. O principal fator é justamente a qualidade dos caras que trabalham no futebol, seja treinador ou seja o diretor”.
Mairon Rodrigues também é analista de desempenho, scout e integrante do Footure. Perguntado sobre a qualidade no debate, Mairon, inclui nova possibilidade sobre o nosso objeto de análise. “Não acho que seja a falta de qualidade, é pressa. Existem bons debates, mas quais têm mais alcance? Qual é o que todo mundo quer ouvir?”
No futebol meio é a mensagem
Quando Mairon menciona em sua resposta acima, qual debate tem alcance e o que todos querem ouvir, podemos colocar nova camada nesta conversa. Caio Alves explica que certamente ele observa que os programas de futebol televisivos dispõem mais tempo para falar de polêmicas extra campo do que necessariamente de conceitos, mecanismos e sistema de jogo e essa é a sua principal crítica ao segmento.
Apesar de minhas hipóteses projetarem que o meio televisivo seria um impeditivo de qualidade no debate sobre futebol, o jornalista é contrário à essa ideia:
“Eu não acho que o problema é o meio de comunicação. O problema não é a televisão ou o rádio em si. É quem faz a TV e quem faz o rádio. Quem faz um trabalho independente está para elevar o nível do debate e muitas pessoas que estão nos meios de comunicação surgiram nestes sites independentes”.
Futebol e o seu elo perdido
Então como aliar um debate com qualidade à uma linguagem acessível e que seja adequada para o formato dos programas de televisão? A resposta para esta pergunta é quase um elo perdido, mas Caio Alves nos mostra o caminho:
“Esse é o principal desafio. O conselho que mais me deram desde que eu cheguei nas redações foi esse, transformar tudo o que eu sei e descomplicar a informação para pessoa do outro lado. Imagine a pessoa do outro lado, como um Homer Simpson, que é aquele ou aquela que trabalha o dia todo, que não está nem aí para discussões profundas depois de um longo e maçante dia de trabalho e só quer chegar em casa, abrir a cerveja dele ou dela e assistir seu jogo de futebol. Então uma estratégia é descomplicar o máximo possível da informação.”
Este caminho é o qual jornalistas e comentaristas de futebol que compreendem a importância de estudar o jogo e sua complexidade, buscam naturalizar em suas intervenções nos programas em que participam, jogos em que transmitem ou mesmo em suas contas no Twitter. O futebol brasileiro precisa de nova interpretação, respeitando tudo o que envolve o jogo.

