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Top 3: Principais leituras do ano — Conrado Parra

Livros escritos por jornalistas foram minhas leituras favoritas de 2020

O jornalista e escritor George Orwell (1903–1950)

Esta é a primeira parte de uma matéria dividida em duas partes. Eu e o jornalista Bruno Henrique destacaremos as três principais leituras de cada um realizadas em 2020.

As minhas escolhas foram: “Lutando na Espanha” de George Orwell, “A Peste” de Albert Camus e “Tempo de Mágicos: A grande década da filosofia | 1919–1929” de Wolfram Eilenberger.

Os três autores têm um pé no jornalismo, por isso a linguagem coloquial e objetiva é uma constante no texto de todos. Outro elemento em comum é a presença de questionamentos morais, éticos, filosóficos e políticos.

A boa arte pode servir para lidar melhor com a realidade, mostrar o valor de uma história bem contada e a importância das pessoas por trás delas. Os livros escolhidos podem ser achados facilmente na internet para comprar ou baixar.

Lutando na Espanha

Em Lutando na Espanha, o escritor, jornalista e ensaísta britânico George Orwell, mais conhecido pelos best-sellers “1984 e “Revolução dos Bichos”, narra em primeira pessoa sua experiência durante a Guerra Civil Espanhola. O conflito, que foi simultâneo à revolução espanhola de viés libertário/ anarquista, aconteceu entre 1936 e 1939 e colocou partidários antifascistas contra fascistas: um prelúdio da Segunda Guerra Mundial.

Sede do POUM (Partido Operário de Unificação Marxista) em Barcelona (1936)

Orwell inicialmente desembarcara em Barcelona para cobrir o confronto como repórter, mas quando sentiu a atmosfera revolucionária do lugar, resolveu se alistar nas milícias do POUM (Partido Operário de Unificação Marxista). O General Franco comandou uma rebelião do Exército com apoio da Igreja Católica, a Itália de Mussolini e o Terceiro Reich Alemão contra a recém-proclamada República Espanhola das forças republicanas que haviam acabado de conquistar uma vitória esmagadora nas eleições locais.

O registro de Orwell é valioso tanto como um documento histórico de alguém que viveu e testemunhou a história sendo escrita (e reescrita) na sua frente, como também por seu valor artístico — o humanismo do britânico está presente em cada uma de suas linhas e um certo senso de humor peculiar em meio ao caos de uma guerra civil. Leia algumas das cartas escritas pelo jornalista sobre o período em questão aqui.

A Peste

Camus (à esquerda) em visita ao Brasil em 1949

A Peste, romance do escritor, jornalista, ensaísta, dramaturgo e filósofo franco-argelino Albert Camus, não podia faltar nesta lista. O livro esteve no topo das recomendações de leitura em várias publicações desde o começo da pandemia do novo coronavírus. A obra reúne temas recorrentes do pensamento de Camus como a condição absurda da existência, o niilismo e a existência de Deus. Estes conflitos existenciais tomam forma com cada personagem retratado.

Leia: Camus: muito além de “A Peste”

A história se passa na cidade litorânea de Oran, na Argélia, onde de uma hora para outra surge um surto de um vírus mortal e sem cura que vitima diversos conterrâneos.

A principal ideia de Camus era denunciar a ocupação nazista da França durante a Segunda Guerra Mundial, mas é inevitável fazer um paralelo com a pandemia atual. “A Peste” permanece sendo uma leitura recomendável, em tempos de crise ou não, pelo fato de colocar um holofote nas relações humanas e nos valores que as sustentam.

Tempo de mágicos

Capa do livro “Tempo de mágicos: A grande década da filosofia | 1919–1929” lançado pela Editora Todavia

Tempo de mágicos é uma obra escrita pelo jornalista, ensaísta e filósofo alemão Wolfram Eilenberger. A proposta do livro é reconstruir a biografia e o pensamento de quatro dos principais pensadores do século XX: Martin Heidegger, Ludwig Wittgenstein, Ernst Cassirer e Walter Benjamin.

O texto de Eilenberger se assemelha ao jornalismo literário e não se prende apenas aos jargões da área acadêmica. A leitura é envolvente e retrata a efervescência cultural da Europa no período pós-primeira guerra. Após o conflito que deixou milhões de mortos, o clima político era instável e os valores do continente estavam em crise.

O livro coloca o leitor em um lugar privilegiado para testemunhar o pensamento e a carreira de cada filósofo tomando forma diante de si. Se ficou curioso, aproveite para conferir a resenha de “Tempo de mágicos” escrita por Joaquim Toledo Jr. para a revista literária Quatro Cinco Um e a entrevista do autor concedida ao jornal El País.

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