Ano de 1996 foi um dos mais icônicos da história do gênero
O ano de 1996 foi histórico para o rap em geral. Vários dos melhores álbuns do gênero foram lançados neste período por alguns dos maiores rappers da história como 2Pac, Nas e Jay-Z e grupos como Mobb Deep, OutKast, UGK e Fugees.
Esta é a primeira parte de uma matéria em que fizemos uma seleção com os principais projetos dessa época tão produtiva e que influenciou grande parte das gerações posteriores e da cena atual. A maioria dos discos citados está disponível nas principais plataformas de streaming.
- OutKast — “ATLiens”

“ATLiens” foi o segundo álbum do grupo OutKast — formado por Andre 3000 e Big Boi, rappers de Atlanta. É um trabalho completamente diferente do anterior e ótimo “Southernplayalisticadillacmuzik” de 94, tanto no quesito instrumental quanto no temático.
Esse disco é como um portal para uma concepção diferente de mundo como o próprio título e a capa sugerem. A dupla já tinha rimas diferenciadas antes, mas começa a formar uma identidade única neste segundo projeto. A pegada é menos agressiva e mais melódica. O amadurecimento emocional e intelectual dos integrantes é sentido pela riqueza do teor crítico das letras.
Melhores músicas: “Two Dope Boyz (In a Cadillac)”, “ATLiens”, “Wheelz of Steel”, “Jazzy Belle”, “Elevators (Me & You)” e “Millennium”.
- 2Pac — “All Eyez on Me”

“All Eyez on Me” foi o quarto disco de 2Pac e seu primeiro trabalho após assinar com a Death Row Records. Neste álbum duplo, o rapper apresenta um projeto mais comercial que os anteriores e com a sonoridade fortemente influenciada pela cena da costa oeste californiana, lugar em que sua gravadora era sediada e onde ele morava no período. Seus lançamentos anteriores eram mais preocupado com denúncias e críticas sociais. Aqui elas também estão presentes, mas o foco principal é a celebração de sua liberdade recém-conquistada (ele acabara de saído daprisão após cumprir 11 meses de pena e ter sua fiança paga por Suge Knight, presidente da Death Row).
Melhores músicas: “Ambitionz Az a Ridah”, “2 of Amerikaz Most Wanted” (feat. Snoop Dogg), “Only God Can Judge Me”, “Tradin War Stories”, “California Love”, “Can’t C Me”, “Shorty Wanna Be a Thug”, “Picture Me Rollin” e “All Eyez on Me”.
- Mobb Deep — “Hell on Earth”

“Hell on Earth” foi o terceiro álbum de estúdio do Mobb Deep — dupla formado por Prodigy, rapper falecido em 2017, e Havoc, produtor e rapper. O grupo se definia pela violência poética de suas letras e a agressividade de seus instrumentais produzidos pelo próprio Havoc. O projeto traz a histórica diss pro 2Pac em “Drop a Gem on ‘Em”, além da própria faixa-título “Hell on Earth (Front Lines)” que contém um dos melhores versos da carreira de Prodigy. Outro destaque é o som “G.O.D., Pt. III” em que eles sampleiam a música-tema do filme “Scarface” (1983) de Brian De Palma. A lista de colaboradores também é muito pesada e inclui grandes nomes da cena de NY como Method Man, Raekwon, Nas e Big Noyd.
Melhores músicas: “Drop a Gem on ‘Em”, “Bloodsport”, “Extortion”,
“Nighttime Vultures” (feat. Raekwon), “Hell on Earth (Front Lines)” e “Still Shinin”.
- Ghostface Killah — “Ironman”

“Ironman” foi o primeiro álbum solo de Ghostface Killah, um dos membros mais consistentes do lendário grupo Wu-Tang Clan. O projeto é recheado de samples de diálogos de filmes de blaxploitation (gênero cinematográfico dos anos 70 protagonizado por negros norte-americanos) que inspira parte da estética e da proposta do trabalho. O disco conta com participações de Mary J. Blige e de vários afiliados do próprio Wu-Tang como Raekwon, Method Man, Inspectah Deck, Masta Killa, U-God, Cappadona e RZA (que foi o produtor executivo de “Ironman” e apenas não assinou o instrumental da faixa “Fish”). O álbum é considerado um dos melhores projetos solo de um integrante do Wu ao lado de “Only Built 4 Cuban Linx…” do Raekwon (que, por muitos, também pode ser considerado um disco do Ghostface por sua contribuição em grande parte das músicas).
Melhores músicas: “Iron Maiden”, “260”, “Assassination Day”, “Fish”, “Daytona 500” e “Motherless Child”
- Nas — “It Was Written”

“It Was Written” foi o segundo álbum do Nas. No projeto que seguiu sua obra-prima “Illmatic”, o rapper de Queensbridge tenta se desafiar um pouco. Na música “I Gave You Power”, ele rima sobre a perspectiva de uma arma. Em “Affirmative Action”, o MC reúne seus colaboradores do grupo The Firm: Foxy Brown, Cormega e AZ que duelam para ver quem tem o verso mais pesado. “If I Ruled the World (Imagine That)” com participação da rapper Lauryn Hill (Fugees) foi um dos principais hits do disco.
Melhores músicas: “The Message”, “I Gave You Power”, “Take It in Blood”, “Nas Is Coming”, “Affirmative Action” e “If I Ruled the World (Imagine That)(feat. Lauryn Hill)”.
- Jay-Z — “Reasonable Doubt”

“Reasonable Doubt” foi o primeiro álbum de estúdio do Jay-Z e um dos principais trabalhos do chamado mafioso rap, gênero de NY inaugurado por seu ídolo Kool G Rap no final dos anos 80. Aqui já estão presentes todos os elementos que caracterizam a persona construída pelo MC de Brooklyn para si mesmo. Seu talento como letrista é nítido desde o começo da carreira que continua consistente até hoje. O projeto conta com participações de nomes como The Notorious B.I.G., Mary J. Blige, Foxy Brown e DJ Premier.
Melhores músicas: “Can’t Knock The Hustle”, “Brooklyn’s Finest” (feat. The Notorious B.I.G.), “Dead Presidents II”, “D’Evils”, “Can I Live” e “Regrets”.
- Lil’ Kim — “Hard Core”

“Hard Core” foi o primeiro álbum da Lil’ Kim. O projeto, além de contar com participações de Jay-Z e Jermaine Dupri, também possui contribuições de seus afiliados do supergrupo Junior M.A.F.I.A. e companheiros da Bad Boy Records como The Notorious B.I.G., Puff Daddy e Lil’ Cease. Biggie foi um dos produtores executivos do trabalho ao lado de Puff.
Lil’ Kim foi, ao lado de Foxy Brown, uma das rappers mais importantes dos anos 90. Ela não tinha medo de se impor ou rimar sobre sexualidade, tema que era comum no meio masculino do rap, mas considerado um tabu para as mulheres — fato que causou polêmica após o lançamento do disco pelo moralismo e o machismo característico da época. Seu estilo era bastante agressivo como o da maioria dos artistas naturais de NY.
Melhores músicas: “Big Momma Thang” (feat. Lil’ Cease and Jay-Z), “No Time” (feat. Puff Daddy) e “Spend a Little Doe” e “Drugs” (feat. The Notorious B.I.G.).
- UGK — “Ridin’ Dirty”
“Ridin’ Dirty” foi o terceiro álbum de estúdio do grupo UGK — formado por Pimp C (falecido em 2007) e Bun B, rappers do Texas. Assim como o OutKast, eles foram fundamentais para construírem a identidade do rap do Sul — que se distinguia da sonoridade dominante dos artistas provenientes das regiões de Los Angeles e Nova Iorque e comandava as estações de rádio da época. Um dos destaques de “Ridin’ Dirty” é “One Day”, música que abre o projeto e sampleia o icônico The Isley Brothers, e traz rimas sobre temas como a vida e a morte.
Melhores músicas: “One Day”, “3 In The Mornin”, “Touched”, “Fuck My Car” e “Ridin’ Dirty”.
- De La Soul — “Stakes Is High”

“Stakes Is High” foi o quarto álbum de estúdio do De La Soul, formado por Posdnuos, Trugoy e Maseo. As músicas do trio se caracterizam por um estilo melódico. Eles foram pioneiros do rap alternativo ao lado de grupos como A Tribe Called Quest, Digable Planets, Fugees e The Roots. A faixa-título do projeto é um dos destaques e tem produção do lendário J Dilla. Na letra, eles criticam a cena do gangsta rap que era dominante no período. O trabalho também conta com participações de Common e Mos Def (Yasiin Bey).
Melhores músicas: “The Bizness” (feat. Common), “Wonce Again Long Island”, “Brakes”, “Big Brother Beat” (feat. Mos Def) e “Stakes is High”.
- Fugees — “The Score”

“The Score” foi o segundo álbum do grupo Fugees, formado por Lauryn Hill, Wyclef Jean e Pras Michel. É, sem dúvida, o melhor projeto deles. A sonoridade é bastante influenciada pela música caribenha (dois integrantes são oriundos da região), principalmente o reggae. As letras carregam diversas críticas sociais e políticas que continuam bastante atuais. Os principais hits da história do Fugees estão presente em “The Score”. O nome do trio é derivado de ‘refugees’ (refugiados) e a mensagem presente na letra de “No Woman, No Cry”, que referencia a música de Bob Marley com o mesmo título, traz um hino de esperança que vem muito bem a calhar em 2021.
Melhores músicas: “How Many Mics”, “Ready or Not”, “Zealots”, “Fu-Gee-La”, “Killing Me Softly” e “No Woman, No Cry”.
Leia também:
A importância do sample e do vinil para a cultura hip-hop
Review: Emicida — Sobre Crianças, Quadris, Pesadelos e Lições de Casa…
Genius e o compromisso de tentar explicar o rap
Dro: uma conversa com o rapper e produtor sobre seu último EP