Cinema

49º Mostra Internacional de Cinema de São Paulo e a dimensão social do cinema – a democratização como a principal aposta de Renata de Almeida na busca por apoios e patrocínios

Diretora da MostraSP desde 2011, Renata de Almeida, junto com Cristiane Passafaro Guzzi, são os principais nomes por trás da organização e direção do V Encontro de Ideias Audiovisuais, que este ano contou com um grande destaque do roteirista Charlie Kaufman e do escritor Valter Hugo Mãe
Capa do V Encontro de Ideias Audiovisuais

Diretora da MostraSP desde 2011, Renata de Almeida foi casada com o crítico de cinema Leon Cakoff, o fundador deste festival. Ela vem, junto a sua equipe, ano após ano, fazendo uma curadoria cuidadosa e apurada que muitas vezes surpreende e emociona. O festival aposta muito no cinema nacional, marginal, árabe ou do sul global, sem, lógico, deixar de lado aqueles títulos super aguardados que ganharam premiações e que foram destaques nos principais festivais ao longo do ano.

Mas o que considero notável mesmo é a capacidade de articulação entre entes públicos e privados que a Mostra vem cada vez mais consolidando para ser reconhecida dentro do calendário mundial do cinema. Este ano com produção executiva de Leila Bourdoukan, direção e organização de Renata de Almeida e Cristiane Passafaro Guzzi, o V encontro de ideias se encerrou no dia 25/10 e foi um dos principais eventos paralelos à MostraSP. Este evento vem também se consolidando como um amplo espaço de troca de ideias, debate, negociações entre produtoras e realizadores de cinema. Além disso, é uma vitrine para marcas apresentarem projetos, instituições debaterem editais e financiamentos do setor audiovisual.

Dentro deste encontro, A Pista Jornal teve acesso à mesa de debates “Visualidades e recepção do cinema brasileiro“, a concepção desta mesa foi realizada pelo Fórum Nacional dos Festivais. Nela se discutiu justamente a importância de mostras e festivais de cinema para o ecossistema audiovisual. Realizada no dia 24/10, a mesa contou com mediação de Josiane Osório, presidente do Fórum Nacional dos Festivais, entidade que é a única representante exclusivamente deste setor e que tenta promover a circulação de filmes brasileiros independentes, formação de público, estímulo à crítica e ao debate, bem como geração de empregos e troca direta com os territórios em que esses eventos se realizam. Em conversa informal com a nossa equipe, Josiane Osório destacou que a integração com os territórios, o senso de pertencimento e identidade que oficinas centrais e conversas paralelas a festivais proporcionam, bem como a atuação da sociedade juvenil por meio de escolas e projetos, ajudam a reafirmar o papel na construção de uma política pública nacional que cada vez mais se mostra necessária.

Foto: Izaque para A Pista Jornal

Lyara Oliveira, atual presidente da SPcine, destacou a necessidade de uma estabilidade dentro de um setor que vive de ciclos, em que iniciativas de setores públicos poderiam garantir pelo menos dois anos de investimentos para eventos que já são recorrentes. No caso de São Paulo, poderíamos destacar a Mostra e o Festival Mix Brasil e, assim, não precisar todo ano buscar acesso a editais, que muitas vezes enfrentam problemas de burocracia. Para ela, isto poderia ser uma ideia que ajudaria a tornar o setor muito mais autossustentável e menos dependente dos rearranjos políticos.

Patrícia Barcelos, que a partir deste ano começou a fazer parte da diretoria colegiada da Ancine, do Conselho Superior do Cinema e integrar o Comitê Gestor do Fundo Setorial do Audiovisual Brasileiro, comentou durante a mesa que é necessário pensar já desde o ponto de partida uma política pública que também pense nos festivais como um momento de valorização de novos negócios, planejamento e investimento em filmes e projetos que ampliem o tempo de tela para o cinema nacional e que ajudem a democratizar o acesso ao cinema. Dentro desta lógica, ela destacou o surgimento de 150 festivais nacionais novos que se tornaram um espaço de maior difusão do cinema brasileiro.

André Diniz, atual secretário de economia criativa da prefeitura de Niterói, também disse sobre a necessidade de estabilidade do setor audiovisual, e que, ao mudar o sistema político ou os agentes sociais internos e externos do audiovisual, isso não deveria impactar tanto o investimento público. Ele destacou em sua fala importantes editais que produtoras e realizadores podem ter acesso para poderem gravar na cidade ou conseguirem investimento da cidade para finalizarem seus projetos ou eventos.

Cinemateca Brasileira
Alguns dos principais eventos da 49ª Mostra está acontecendo em parceria com a Cinemateca Brasileira

Carlos Zarattini, deputado federal por São Paulo, sob um ponto de vista político, disse que é necessário se comentar mais sobre os entraves do orçamento e como pensar em projetos a partir de diretrizes do governo e a destinação das despesas discricionárias. De acordo com ele, precisamos de mais deputados, senadores e aliados políticos do setor audiovisual dentro da política institucional brasileira, pois a cultura e o sistema são baseados também em emendas parlamentares, e estas poderiam ajudar festivais itinerantes a irem para cada vez mais cidades distantes e que muitas vezes não possuem acesso ao cinema, democratizando assim ainda mais o acesso à sétima arte.

Nicolas Piccato, adido da França no Brasil, também participou do encontro. Ele falou sobre Cannes ter nascido como um festival para difundir o cinema não-americano, e como os festivais de lá vão para cidades que geralmente não têm acesso ao cinema, ou seja, que muito da cultura cinéfila francesa nasceu como senso de proteção de sua cultura e reafirmação de uma identidade e projeto de país por meio do mundo cinematográfico, o que hoje podemos compreender como bem-sucedida, se observamos o tanto de fãs que o cinema francês possui.

Sendo assim, será que estamos no caminho certo? Como festivais como a Mostra, Tiradentes, Brasília, Gramado, Mix Brasil, entre outros, estão contribuindo para a representação e divulgação do cinema nacional? É sempre bom ficarmos de olho na programação destes grandes eventos e problematizar quando não nos sentimos representados. Ao meu olhar, a Mostra é um dos eventos brasileiros que mais se destaca nesse quesito. Nossa equipe vai tentar começar a acompanhar mais de perto outros festivais e mostras grandes do circuito brasileiro para entender melhor esse panorama. Até o final da primeira quinzena de novembro, lançaremos mais textos sobre o V Encontro de Ideias, a cerimônia de premiação e os textos críticos dos filmes que vimos.

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