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#APistaIndica: as 3 séries mais subestimadas de 2025

2025 está chegando ao fim e muitas séries de qualidade foram lançadas neste ano. É comum ver sempre os mesmos nomes — normalmente as produções das grandes redes de streaming — nas listas de melhores lançamentos do ano. Pensando neste grande volume de trabalhos, separei 3 séries que não foram tão comentadas quanto deveriam, mas poderiam ter mais atenção do público e da crítica.

Para sair do mesmismo, escolhi projetos de três países diferentes: Estados Unidos, Itália e Brasil. Todos os selecionados, até agora, têm apenas uma temporada com oito episódios no total. Cada um pertence a um gênero diferente. Se você tiver alguma recomendação, sinta-se livre para indicar alguma série que faltou nesta lista nos comentários. Boa leitura e boa maratona!

Alien: Earth” [Disponível na Disney+]

Alien: Earth“, como o nome indica, faz parte do universo da franquia Alien — que começou com o sucesso estrondoso de “Alien — O Oitavo Passageiro” (1979), longa estrelado por Sigourney Weaver e dirigido por Ridley Scott, que continua produzindo sequências e prequels até hoje.

Assim como o filme original, a série criada por Noah Hawley (que também trabalhou em “Fargo” e “Bones”) tem uma estética retrofuturista com elementos que combinam ficção científica e terror. A história se passa no futuro, mas a presença desta mistura faz com que o espectador consiga se ambientar melhor àquele universo e também construa uma conexão entre presente, passado e o tempo que está por vir.

Cena de "Alien: Earth" (Foto: Divulgação/ FX)
Cena de “Alien: Earth” (Foto: Divulgação/FX)

Em linhas gerais, a primeira temporada acompanha a vida na Terra — que é dominada por uma grande corporação chamada Prodigy e é liderada por um jovem supostamente genial chamado Boy Kavalier. Tudo parece bem, na medida do possível, quando uma nave espacial — cheia de espécies extraterrestres, entre elas o Alien que todos nós conhecemos — cai no planeta. Você pode imaginar o que acontece a partir daí.

Quase todos os personagens desta produção são bem construídos e com uma ótima química em cena. O núcleo principal dos personagens desta série é formado por sintéticos — humanos que tiveram sua consciência transferida para um novo corpo. O mais curioso é que esse grupo de sintéticos eram crianças que estavam à beira da morte e agora são seres “imortais” em corpos de adultos, mas com a consciência “inocente” de uma pessoa menor de idade.

Dilemas do mundo atual estão refletidos em várias tramas da série. Há discussões sobre ética no uso de inteligência artificial, a inocência das crianças, o possível fim do mundo como conhecemos e também a ganância das corporações. O elenco conta com nomes conhecidos como Timothy Olyphant (“Deadwood” e “Justified“) e Alex Lawther (“Black Mirror” e “The End of the F***ing World“), mas o destaque fica na conta de Sydney Chandler, que interpreta a protagonista Wendy.

Mussolini: O Filho do Século[Disponível na MUBI]

A série é uma adaptação de “M, O Filho do Século“, primeiro livro de uma tetralogia [ainda em andamento] escrita pelo escritor e acadêmico Antonio Scurati, que lhe valeu o Prêmio Strega — a premiação mais prestigiosa da Itália para obras de ficção em 2019.

O consagrado diretor italiano Paolo Sorrentino, responsável por “A Grande Beleza” (2013), é um dos produtores executivos do projeto e é notável a influência dele nesta produção, apesar de a direção dos episódios ficar a cargo do britânico Joe Wright — que tem um estilo mais “sóbrio” — e é mais conhecido por sua adaptação de “Orgulho e Preconceito” (2005).

Cena de "Mussolini: O Filho do Século" (Foto: Divulgação)
Cena de “Mussolini: O Filho do Século” (Foto: Divulgação/MUBI)

A história, tanto do livro quanto da série, acompanha a trajetória política de Benito Mussolini, ditador italiano que fundou e popularizou o fascismo italiano. O principal mérito deste trabalho é não ser uma mera adaptação do texto de Scurati (que é um grande escritor e também foi um dos produtores da série), mas se apropriar dos recursos próprios do audiovisual para potencializar a escrita do autor. A montagem e a trilha sonora — que mistura rock com música eletrônica — são dois elementos-chave para criar uma experiência imersiva e sufocante no espectador. As cenas de violência também são brutais e denunciam o fascismo em toda sua virulência e brutalidade.

Luca Marinelli, mais conhecido pelo seu papel em “Martin Eden” (2019), interpreta o Duce com maestria. Benito também poderia ser considerado um ator, porque performava todos os papéis que julgava necessários para a consolidação do seu poder. A política é, de fato, um grande palco. Marinelli encara a câmera e o espectador em diversos momentos, assim como Kevin Spacey fazia em “House of Cards“, tradicional série política da Netflix. Estes momentos são cômicos e há um humor latente na narrativa (que me lembra mais Sorrentino do que Wright por este aspecto) — apesar de se tratar de uma história trágica. O humor vem da sátira destas figuras ridículas e suas próprias contradições internas — como o próprio Mussolini, seus camisas negras e o rei italiano.

Raul Seixas: Eu Sou[Disponível na Globoplay]

Lançada em homenagem aos 80 anos do nascimento de Raul Seixas, a minissérie “Raul Seixas: Eu Sou” acompanha diferentes fases de um dos maiores nomes do rock e da música brasileira: ela vai desde o Raul criança até o Raul produtor, o Raul artista, o Raul pai e o Raul alcoólatra.

A abertura dá o tom do estilo e da estrutura da produção: o letreiro do título é acompanhado pela voz de Seixas cantando um trecho de sua canção “Gita”: “Eu fui, eu sou, eu vou”. É como se o conceito cantado por Seixas em “Metamorfose Ambulante” estivesse impregnado no espírito desta série produzida pela O2 Filmes. O trabalho não almeja ser apenas mais uma típica biografia musical rodeada de clichês e idealizações (como várias presentes no mesmo catálogo da Globoplay), mas segue um caminho mais livre e experimental. O objetivo não parece ser algo meramente jornalístico e informativo sobre sua vida, já que, se o interesse for esse, o espectador pode conferir o ótimo e instrutivo documentário “Raul – O Início, o Fim e o Meio (2012)”, disponível na Netflix.

Ravel Andrade na série "Raul Seixas: Eu Sou" (Foto: Divulgação)
Ravel Andrade na série “Raul Seixas: Eu Sou” (Foto: Divulgação/O2 Filmes)

O estilo da obra, que é estrelada por Ravel Andrade, remete ao caráter subversivo e transgressor da arte do Raulzito. Paulo Morelli, o criador do projeto, utiliza toda a sua criatividade para reimaginar as brisas de Raul e colocar o espectador na mesma sintonia em que o Maluco Beleza vivia. O senso de humor peculiar de Raulzito também se faz presente durante os episódios.

Você se sentirá parte daquela história, como um espectador privilegiado observando as interações entre Raul e o escritor e compositor Paulo Coelho — um dos seus amigos e mais frequentes colaboradores —, que é interpretado com maestria em todos seus trejeitos e esquisitices por João Pedro Zappa. A trilha sonora da série está repleta das melhores músicas de Seixas. As cenas de suas apresentações são um deleite sonoro e também visual pelo capricho no figurino e na direção de fotografia. Leia a resenha completa da série clicando aqui.

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