O festival, realizado pela Associação Cultural Mix Brasil, vai além do entretenimento. Busca-se criar um espaço seguro de encontro, debate e transformação. É sobre conhecer, ser reconhecido, sobre ver e se ver, de alguma forma ser representado por um espelho coletivo em que cada identidade ganha contorno, voz e potência. A homenagem à Marisa Orth com o Prêmio Ícone Mix reforça a memória afetiva e histórica do evento, que segue homenageando quem, de alguma forma, ajudou a pavimentar o caminho da visibilidade LGBTQI+ no Brasil.
Com programação completa ainda a ser divulgada no site, o festival ocorrerá entre os dias 12 e 23 de novembro. No evento de apresentação deste ano, que, apesar de contar com recursos limitados, tivemos a informação de que esta edição vai ser a maior desde seu lançamento em 1993. Com mais de 140 filmes, de 33 países, que se unem a peças teatrais, experiências digitais, literatura e até uma mostra de obras criadas com inteligência artificial, entre outras intervenções artísticas, como o Show do Gongo, apresentado por Marisa Orth desde 1999, o Mix Brasil apresenta e defende a proposta de manter viva a arte como ferramenta política.

André Fischer, diretor e idealizador, destacou na apresentação do festival que a colaboração internacional, apesar de neste ano contar com menos recursos, viabilizou uma edição mais integrada à cidade, mais potente e criativa, sem deixar de lado a exploração pelo novo, que é marca recorrente do Mix Brasil. Ele falou sobre a temporada França-Brasil 2025 e a seção Mundo Mix, que homenageia a Polônia, permitindo assim que muitas obras inéditas fossem exibidas para um amplo público em São Paulo, em locais como CineSesc, CCSP (Centro Cultural São Paulo), Spcine Olido, Cinemark (Shopping Cidade São Paulo), Instituto Moreira Salles (IMS Paulista), Reserva Cultural, Museu da Diversidade Sexual, Museu da Imagem e do Som (MIS), Biblioteca Mário de Andrade, Galeria Vermelho, Tendal da Lapa e Teatro Sérgio Cardoso.
Muitos dos eventos vão ser gratuitos, outros vão contar com preços populares. Recomendamos dar uma olhada no site ou redes sociais do evento para encontrar informações sobre os ingressos e/ou como retirá-los, lembrando que ingressos gratuitos costumam começar a ser retirados geralmente 1h antes do evento. Certos filmes, como o de abertura, em que tivemos acesso na cerimônia de apresentação do evento, “Me Ame Com Ternura“, da diretora Anna Cazenave Cambet, que estará no Brasil, devem ter ingressos disputadíssimos.
Distribuído pela Imovision, o filme deve estrear no Brasil no mês de janeiro; antes disso, terá sessão especial como filme de abertura do Festival Mix Brasil, no dia 12/11 no Cine Sesc da Augusta, com distribuições de ingressos a partir das 19h.
O filme francês, estrelado por Vicky Krieps, conta a história de Clémence, uma mulher que, após assumir que ama mulheres, vê o ex-marido tentar lhe arrancar o direito de ser mãe. O que poderia parecer uma narrativa íntima e pessoal se desdobra em uma poderosa metáfora social sobre controle, opressão e resistência feminina.
Clémence não luta apenas pela guarda do filho, mas pela posse de si mesma, pela materialidade de seu corpo, de seu desejo, de sua autonomia. É justamente nessa disputa silenciosa em que a água aparece como metáfora ora de liberdade, ora de prisão, ora de tristeza, ora de esperança, em que temos um fio condutor, em que uma mulher não quer ser mais advogada, mas, por meio do processo de ser e se tornar escritora, quer advogar sobre o direito de amar e ser amada, seja de forma romântica, seja na forma de mãe e filho.
Anna Cazenave Cambet filma o cotidiano dessa mulher com uma sensibilidade quase documental, revelando como a violência patriarcal pode se infiltrar nas relações familiares mais banais, transformando o amor em território de guerra. Cada gesto de Clémence, o silêncio, o olhar cansado, a tentativa de continuar respirando no turbilhão de água que a atravessa tanto fisicamente quanto metaforicamente, é um ato de resistência contra um sistema que insiste em punir mulheres por existirem fora do modelo normativo.

Clémence é uma mulher que ousa viver sua verdade e, por isso, paga um preço alto. Ainda assim, ela continua, ela vai até às últimas consequências em nome de bancar aquilo que deseja. Em certo momento ela escreve em seu livro: “Eu prefiro a verdade da guerra do que a hipocrisia da paz” e, se no primeiro encontro com o filho depois de muito tempo sem vê-lo, ela dá uma bússola de presente, Clémence acha que precisa frequentar festas eletrônicas e transar muito para deslocar toda sua energia para algo que não seja a raiva e a revolta.
Entre os destaques dos filmes internacionais estão também: “Twinless – Um Gêmeo a Menos“, vencedor do Prêmio do Público no Festival de Sundance; “O Olhar Misterioso do Flamingo“, que levou o Prêmio do Júri de Melhor Filme na mostra Un Certain Regard em Cannes; “A Sapatona Galáctica“, animação australiana de Leela Varghese e Emma Hough Hobb, que venceu o Prêmio Félix de Melhor Longa Internacional no Festival do Rio.
Entre os nacionais A Pista destaca “Ato Noturno” de Marcio Reoleon e Filipe Matzembacher; “A Natureza das Coisas Invisíveis” de Rafaela Camelo; “Apenas Coisas Boas” de Daniel Nolasco e “Ruas da Glória” de Felipe Sholl.
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