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Ghetto Brothers: A eclosão do Hip-Hop nas ruas de Nova Iorque

Violência, assassinatos e tráfico de drogas. Era essa a realidade do Bronx, condado de Nova Iorque nos anos 1970, um lugar sem lei tomado por gangues de diversas etnias que se atacavam constantemente por suas diferenças. Os grupos eram separados por territórios e impunham suas próprias regras, em uma época em que não existiam civis. Muitos dos jovens participavam das gangues ou se tornavam uma de suas vítimas.

Foi diante desse cenário que surgiram os Ghetto Brothers, uma gangue diferente das demais, formada por porto-riquenhos e negros que promoviam a paz e a igualdade, e assim vieram a se tornar o principal precursor para o surgimento do movimento hip-hop nos Estados Unidos.

Foram diversos fatores que contribuíram para esse cenário que não ocorria apenas no Bronx, mas também no Harlem, Queens, Brooklyn e praticamente em todos os bairros pobres de Nova Iorque.

A Guerra do Vietnã

Malcolm X segura jornal que denuncia o assassinato pela polícia de Los Angeles de sete pessoas negras desarmadas Créditos: Reprodução/Arquivo

O fator principal que instalou o estado de calamidade em Nova Iorque se deu nos anos 60. A contracultura estava a aflorar defendendo mudanças como o fim da Guerra do Vietnã e, além de ser também “um conjunto de atitudes que iam contra os valores estabelecidos. Seu estilo era marcado pelo uso de cabelos compridos, roupas coloridas, o uso de drogas, a sexualidade livre, entre outros fatores”, afirma o professor e historiador Ladenilson Pereira.

A contracultura e o movimento negro lutavam igualmente na época pela revolução e pelo fim da ordem mundial desigual. Martin Luther King discursava defendendo a liberdade e a igualdade através de marchas, passeatas e boicotes como instrumentos de mobilização.

“Além de Luther King com seu discurso de não violência, havia também Malcolm X com seu discurso muçulmano agressivo ou mesmo o movimento dos Panteras Negras, que considerava legítima a utilização da violência”, acrescenta o professor.

Mas não se viam resultados; a guerra prosseguia e os movimentos nas ruas eram tratados violentamente pela polícia, seguidos dos assassinatos de líderes como o próprio Martin Luther King e o Presidente Kennedy, por ser progressista e defender também os Direitos Civis das minorias. Casos como esse enfraqueceram bastante a luta e geraram muita revolta e ainda mais violência nos anos seguintes.

Ghetto Brothers

Alguns membros do Ghetto Brothers reunidos como banda/ Créditos: Reprodução/Arquivo

Segundo o documentário Rubble Kings (2010), dirigido por Shan Nicholson, o grupo Ghetto Brothers foi criado no ano de 1963 no distrito do Bronx por Benjamin Melendez, mais conhecido como “Yellow Benji”. De origem porto-riquenha, criou a terminologia para se referir à união que tinha com seus irmãos, Robin e Victor, sem nenhuma intenção de formar uma gangue.

Melendez conhecia muita gente no Bronx e simpatizava com todos, logo o grupo foi ampliado e não se limitava apenas a seus irmãos, mas sim a todos seus conhecidos.

Tudo mudou quando ainda menino, com apenas 11 anos, conheceu Carlos Antônio Suarez, mais conhecido como “Karatê Charlie”. Charlie tinha a mesma faixa de idade, e algo que o atraiu foi o fato de o garoto lutar muito bem o Karatê – circunstância que originou seu apelido – utilizando uma técnica que ele admirava muito. Logo formou-se um grande laço de amizade entre os dois. Posteriormente, Charlie viera a se tornar presidente dos Ghetto Brothers, quando o grupo vira a necessidade de se organizar como gangue.

Reflexos

Créditos: Reprodução/Arquivo

Por consequência dos acontecimentos dos anos 1960, os Estados Unidos sofreram um grande impacto socioeconômico nos anos 1970. O desemprego aumentava, as empresas faliam e Nova Iorque sentia o peso crescente da crise. A busca por mudança social fracassara e os guetos continuavam na miséria, transformando-se em lugares totalmente desolados, carentes de atenção governamental – algo que consequentemente culminou na decadência dos distritos e fez com que o Bronx virasse algo que os moradores de hoje não gostam de relembrar.

Estabelecimentos fecharam e diversas pessoas das classes médias e altas se mudaram do Bronx, sobrando apenas as classes baixas. Houve grande aumento do número de crimes, além de prédios sendo incendiados por seus proprietários no intuito de receberem seguro e se mudarem de distrito – casos como esse se tornaram corriqueiros.

O Bronx transformou-se em um símbolo de decadência urbana e, devido a tanta violência, as gangues foram criadas com a necessidade de se protegerem. Como forma de se identificarem, utilizavam símbolos expostos nas costas de suas roupas com o nome e as cores da gangue e se dividiam por territórios; não existia a possibilidade, por exemplo, de transitar por estas áreas se estas não fossem de seu determinado grupo pertencente, correndo risco até mesmo de morte.

Convido os leitores a continuarem a leitura da matéria no seu próximo capítulo, na qual discorremos sobre os acontecimentos que geraram um acordo de paz entre as gangues e talvez os primeiros passos do movimento Hip-Hop.

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