Cinema

“Raquel 1:1”, novo filme estrelado por Valentina Herszage, chega aos cinemas

Raquel 1:1

Raquel 1:1” chegou oficialmente aos cinemas brasileiros nesta quinta-feira (23/03). O filme foi dirigido e roteirizado por Mariana Bastos. Seu último trabalho foi o drama “Alguma Coisa Assim”, lançado em 2017 e realizado em parceria com Esmir Filho.

A O2 Play foi a responsável pela distribuição do longa que foi o único representante do Brasil no tradicional Festival South by Southwest (SXSW) de 2022.

A sinopse

O Pai Hermes (Emilio de Mello) e a filha Raquel (Valentina Herszage) decidem se mudar para uma pequena cidade do interior para recomeçarem suas vidas. Eles vão morar juntos em uma pequena casa que antes pertencera ao avô da menina. A fonte de renda da família é uma pequena marcearia. As condições financeiras deles não são das melhores.  

A mãe de Raquel foi assassinada há pouco tempo e esse trauma acompanha a personagem até hoje. Um dos meios que a jovem encontrou para lidar com o luto foi se aproximar da religião. Ela lhe dá algum conforto e propósito no meio do caos de sua mente.

O filme trata a morte da mãe de um modo bastante sensível. O acontecimento nunca é mostrado com imagens. Por meio de sons o público ouve parte do que ocorreu no dia da morte enquanto observamos as expressões de Raquel relembrando o fato no presente. É sobre a perspectiva dela que estamos tomando conhecimento daquilo. A diretora Mariana Bastos escolhe não transformar isso em algo visualmente apelativo e prefere focar na sequela mental que esta violência deixou na protagonista. Esta abordagem vai de encontro a abordagem de terror psicológico que o trabalho tem. A escolha de não mostrar esse feminicídio também aumenta o impacto da cena. O horror imaginado costuma ser muito maior do que o horror real.

Cena de “Raquel 1:1”, (Foto:: Divulgação/O2 Play)
Cena de “Raquel 1:1” (Foto: Divulgação/O2 Play)

O universo de “Raquel 1:1”

A trilha sonora e a fotografia são dois dos destaques de “Raquel 1:1”. Ambas são sombrias desde o começo da história e ditam o tom daquele universo que o público está conhecendo em primeira mão junto com a personagem principal. Esses elementos também colaboram para construir a estranheza daquele local e suas peculiaridades. Algo no ar não está certo e isto é mostrado para o público visualmente e sonoramente, não pelo meio textual em diálogos expositivos tradicionais.

Raquel faz amizade com as meninas locais e entra para a igreja evangélica da cidade, mas acaba por questionar os dogmas locais e criar sua própria célula – um grupo de estudos destinado a reescrever a bíblia sobre uma perspectiva mais moderna, progressista. O próprio título do longa é uma referência à ela como uma profeta criando seu próprio evangelho.

Suas críticas são direcionadas a várias passagens problemáticas presentes no chamado livro sagrado que evidenciam o machismo, a misoginia e o preconceito característico do período em que este foi escrito.

A personagem vivida por Valentina Herszage começa a bater de frente com a comunidade local quando sua visão de mundo entra em conflito com certas verdades absolutas da religião. Este será o grande conflito da história. As pessoas do povoado se sentem atacadas no seu modo de vida tradicional por uma forasteira e vão fazer todo o possível para controlar aquela dissidência.

Trailer de “Raquel 1:1”

O filme se importa com apenas com dois personagens: Raquel e sua amiga Laura (Eduarda Samara). O relacionamento das duas também é construído com muita delicadeza e o longa se beneficiaria se passasse mais tempo acompanhando-as.

Os outros personagens são bastante caricatos, principalmente a pastora local e sua filha que sempre falam o que você espera ouvir, clichês atrás de clichês. É uma escolha da diretora e roteirista que facilita a nossa identificação com a personagem principal. O próprio pai de Raquel não passa de um coadjuvante esquecível. Não pela sua performance, Emílio de Mello é um ótimo ator, mas pelo pouco que o roteiro lhe oferece. Seu talento poderia ser melhor aproveitado para dar mais força e fôlego ao longa. A história só teria a ganhar com personagens mais nuançados além da protagonista e sua amiga.

Raquel 1:1” mistura drama, terror (que é mais aludido do que mostrado) e suspense na sua trama. A obra de Mariana Bastos também tem fortes críticas ao machismo e ao fundamentalismo religioso que ecoam Brasil afora, muito além da pequena cidade do interior retratada na sua história. O filme está em cartaz nos cinemas. 

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