Medusa Deluxe
“Medusa Deluxe” é o primeiro longa-metragem do diretor inglês Thomas Hardiman, que também escreveu o roteiro. O filme acompanha um dia em um salão de beleza logo após a morte misteriosa e brutal de um dos profissionais do lugar. O contexto é uma competição de penteados. As cabeleireiras/ hairstylists estão em estado de alerta porque esta é uma oportunidade única para ganharem reconhecimento em sua área e, de quebra, também obterem um retorno financeiro para seu futuro. A maior parte da história se passa em único prédio em algum lugar da Inglaterra – pelo menos é o que dá pra notar pelo sotaque dos personagens.
A sinopse dá a ideia de um filme sobre uma investigação de assassinato, mas este não é o caso. O cineasta Hardiman não está muito preocupado com a solução deste suposto crime, não há algo parecido com um detetive carismático e original como um Benoit Blanc de “Entre Facas e Segredos” (2019) e “Glass Onion: Um Mistério Knives Out” (2022). Nenhum funcionário da polícia é protagonista desta história. A obra parece não se resumir a um único gênero, há elementos de mistério, suspense e até comédia. Isto não é um defeito em si. Muitas produções contemporâneas transitam entre estilos diferentes e, dessa forma, constroem algo próprio. Mas os elementos cômicos – principalmente na forma de diálogo das personagens Cleve e Divine – são o que sobressaem no saldo final da experiência .
Não espere grandes plot twists ou revelações bombásticas. Neste universo, existem somente pessoas comuns e suas picuinhas diárias que assumem proporções desproporcionais, movidas muito mais pelo vazio de aspirações daqueles personagens do que tudo. Não conhecemos muita coisa do passado de cada um. Eles são o que falam e como reagem a notícia da morte de um dos seus colegas. Esse é o material que é disponibilizado a nós para julgá-los, para decidir se nos identificamos ou não.
As melhores personagens do filme são duas das três mulheres que aparecem na primeira cena do longa: Cleve (Clare Perkins) e Divine (Kayla Meikle). Ambas são negras e são participantes no torneio de penteados. O fato dessas personagens serem as primeiras pessoas apresentadas ao público faz com que os outros personagens pareçam ainda menos interessantes por contraste. Apesar de “Medusa Deluxe” ser um filme escrito e dirigido por um homem, as personagens mulheres são as melhores construídas.
Os personagens são o que falam e fazem. Conhecemos fragmentos da historia de cada um pelo discurso de cada personagem. As personagens femininas são verborrágicas, os homens são ao contrário.
E em contrapartida, os personagens masculinos são os mais fracos em construção. Nem Angel, Gac , Rene ou Patricio são exatamente memoráveis.
Um exemplo é Angel (Luke Pasqualino), ex-amante de Mosca – o homem morto no começo do filme. Ele é uma das pessoas que mais sofre com a morte, junto com Rene e Gac, mas sua atuação é extramente forçada e exagerada. Não parece uma pessoa de carne e osso, com sentimentos e aspirações, e sim um alívio cômico.
Além da comédia ser o forte de “Medusa Deluxe“, outro destaque é como o longa se utiliza do espaço de uma forma criativa. Só saímos do lugar em que a cena se passa quando um dos personagens também sai. Eles são nossos portais para outros lugares. A câmera quase sempre os acompanha quando eles se deslocam de um local ao outro. O diretor quer criar a experiência de um filme como um longo plano-sequência, um plano que registra uma sequência sem cortes.
A trilha sonora também chama a atenção. A música acompanha o personagem junto com a câmera. Ela pretende emprestar um ar grandioso e trágico a uma história que na superfície é banal. O efeito é dissonante e, por isso, chama a atenção. Neste sentido, lembra um pouco a trilha de “White Lotus“, premiada série contemporânea da HBO.
“Medusa Deluxe” é mais um fruto da parceria da O2 Play com a MUBI. O longa chegou aos cinemas brasileiros no dia 15 de junho e estreia na plataforma da MUBI no dia 4 de Agosto.
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