
Possessões demoníacas são retratadas há décadas no cinema e nas artes em geral. E em 2023, o diretor argentino Demián Rugna trouxe “When Evil Lurks” (do espanhol, Cuando acecha la maldad) como um destaque original em meio a diversas produções que atualmente são provenientes de remakes e reboots no universo do terror.
O filme opta por começar com um mistério já instaurado, sem muitas delongas: barulhos de tiros são ouvidos durante à noite. Logo, os irmãos Pedro e Jimmy ficam em alerta e resolvem sair para fora de sua casa e investigar o ruído. Não se deparam com nada que chame a atenção, até porque, há o breu infinito da noite.
No dia seguinte, ao amanhecer e saírem para a mata, localizam um cadáver estraçalhado aparentemente sendo de um homem. A partir disso, começam a questionar: o que aconteceu e quem (ou o que) fez isso? Para aumentar ainda mais o mistério que envolve barulhos de tiros e um cadáver em pedaços, encontram também um objeto misterioso que Pedro julga já ter visto antes.
A partir daí, muitas situações estranhas acontecem. Os irmãos vão até uma casa vizinha e lá descobrem que há um homem “infectado pelo demônio” e que está prestes a parir um ser maligno. Dessa forma, os irmãos lutam contra o tempo a fim de resolver a situação. Até porque uma possessão não interfere somente na vida da pessoa que é possuída (ou infectada segundo o universo do filme), mas em todo o local de seu torno.
Após uma série de acontecimentos envolvendo mortes violentas, os irmãos logo percebem que devem fugir dali o mais depressa possível. Para isso, Pedro e Jimmy, junto com sua família, decidem deixar a fazenda e a cidade onde vivem. No entanto, o mal os persegue em uma velocidade maior do que podem notar.
Diferente de outros filmes de possessão, “When Evil Lurks” opera com a presença demoníaca em diversas formas. Ao longo do filme, vemos que o demônio não toma posse apenas do corpo e da mente de pessoas, mas também de animais como bodes e cachorros (animais que, de alguma forma, já possuem um simbolismo relacionado ao diabo). Além disso, o mal toma forma enquanto confusão mental, como por exemplo, quando os irmãos pensam estar ficando loucos em determinados momentos pois já duvidam do que viram e ouviram.
Outro ponto interessante é a forma como as igrejas são vistas. Enquanto instituições de fé, no universo do filme, elas perderam o poder de salvação das pessoas que, devido a isso, aprenderam a lidar com os possuídos da sua própria maneira. Dessa forma, não vamos esperar algo como padres e o Vaticano envolvidos na narrativa desempenhando o papel de solucionadores do problema demoníaco, como ocorre nos clássicos “O Exorcista” (1973), “O Ritual” (2011), ou um dos pioneiros no gênero de possessão demoníaca e pouco conhecido: “Madre Joana dos Anjos”, filme polônes, lançado em 1961. Sobre esse filme, em especial, temos uma freira possuída por oito demônios. Enquanto gênero, o filme aloca-se no subgênero de “nunsploitation”, em que há uma apelação para a profanidade e transgressão de freiras dentro de um ambiente católico.
A respeito das regras que o filme segue, em determinado momento da trama, a mãe dos irmãos explica o que é um “possuído”. Ela afirma que é algo muito ruim que entra no corpo de uma pessoa e o usa para renascer. A partir daí, segue uma explicação de regras a serem seguidas para evitar a possessão demoníaca: não usar luzes elétricas, não ficar perto de animais, não levar nada que esteja perto deles [os possuídos], não os machucar, nunca chamar o mal pelo seu nome [por exemplo, Lúcifer, Belzebu] e não usar armas de fogo contra eles – isso dá forma à mitologia original do universo do filme, o que deixa tudo mais interessante e foge dos clichês hollywoodianos.
Visualmente falando, o filme é temperado com cenas consideradas gore e possui um bom trabalho de maquiagem. Nesse sentido, o filme apresenta potencial para agradar os fãs de terror e dar luz às produções latinas.
Infelizmente, por enquanto, o filme ainda não está disponível em plataformas de streaming no Brasil.
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