Você tem interesse em aprender mais sobre filosofia? Se sim, nós separamos 3 livros lançados recentemente que falam de filosofia de uma forma bastante acessível e profunda ao mesmo tempo. Um deles foi escrito por Stuart Jeffries, jornalista do tradicional jornal inglês The Guardian, e os outros dois são escritos pela autora inglesa Sarah Bakewell, professora de escrita criativa e formada em filosofia. Essa formação faz com que o texto de ambos seja uma experiência prazerosa de leitura, além de didática.
Os livros selecionados falam, principalmente, sobre correntes que marcaram o pensamento filosófico e político do século XX, mas que continuam influenciando pensadores mundo afora. Em estrutura, eles se assemelham mais ao formato biográfico do que a livros teóricos – apesar de ainda possuírem este rigor. Escolas como o marxismo, o existencialismo, a psicanálise, o estoicismo estão entre as mencionadas nestes escritos. Pensadores consagrados como Walter Benjamin, Theodor Adorno, Jean-Paul Sartre, Simone de Beauvoir, Martin Heidegger e Michel de Montaigne se fazem presente nestas leituras.
Confira abaixo a lista completa.
“Grande Hotel Abismo – A Escola de Frankfurt e seus personagens” — Stuart Jeffries (Editora: Companhia das Letras)
“Grande Hotel Abismo — A Escola de Frankfurt e seus personagens” é uma biografia filosófica, histórica e pessoal dos principais membros da Escola de Frankfurt e suas referências intelectuais – desde sua fundação em 1923 até os dias de hoje. O livro é um passeio didático e prazeroso pelos bastidores da construção e consolidação desta consagrada instituição e de seus principais pensadores.
Walter Benjamin, Adorno, Horkheimer, Marcuse, Erich Fromm e Habermas são alguns desses personagens que tomam forma na mente do leitor com o ótimo texto do autor Stuart Jeffries que, como jornalista do Guardian, está acostumado com um texto mais claro. Somos guiados por um passeio pela História com H maiúsculo junto com essas figuras.
De uma forma simples, dois dos conceitos mais importantes para o Instituto para Pesquisa Social (o nome oficial da Escola de Frankfurt), como a indústria cultural e a teoria crítica (fundada por esses pensadores), são explicados de uma forma bastante didática ao público.

Assim como os criadores da chamada teoria crítica, que por algumas vezes pensaram com Marx e outras vezes contra ele, Jeffries também parece alternar entre pensar com seus personagens e também contra eles. Além do marxismo, a psicanálise freudiana também teve uma influência muito grande no pensamento da Escola, principalmente na figura do psicanalista Erich Fromm.
O conflito entre teoria e prática foi uma constante que acompanhou a Escola de Frankfurt por toda sua vida. É interessante como o livro expõe as contradições de todos esses pensadores – desde sua origem social até as influências diversas de seu pensamento.
Recomendo fortemente “Grande Hotel Abismo” para quem tem interesse em história, política e filosofia em geral. Você não precisa concordar com tudo que esses pensadores disseram (nem mesmo o autor Stuart Jeffries concorda), mas vai sair dessa experiência muito mais enriquecido intelectualmente. Muito do que eles falaram e estudaram ainda ecoa nos nossos tempos e podemos nos aproveitar dessa obra para começar a pensar mais a fundo sobre o atual estado do capitalismo contemporâneo e os desdobramentos que a indústria cultural tomou no século XXI.
“No Café Existencialista: O retrato da época em que a filosofia, a sensualidade e rebeldia andavam juntas” — Sarah Bakewell (Editora: Objetiva)
“No Café Existencialista: O retrato da época em que a filosofia, a sensualidade e rebeldia andavam juntas” é uma grande biografia do movimento existencialista moderno, com foco principal em Heidegger e Jean-Paul Sartre. Os dois foram o ponto de partida desta história, segundo Bakewell, mas a presença de Simone de Beauvoir se impõe durante a escrita da obra e, para mim, ela divide o protagonismo deste livro com Sartre. Sua história é fascinante por si só.
O pensamento de autores tão diversos como Nietzsche, Kierkegaard, Camus e Merleau-Ponty, que não são considerados existencialistas de fato, também é analisado neste volume. Todos, de certa forma, influenciaram ou foram influenciados pelo existencialismo, por isso a autora sente a necessidade de contextualizar o leitor sobre eles. Nós sentimos vontade de conhecer um pouco mais de cada um deles após esta leitura.

O título do livro traduz muito bem a proposta da autora. Ela diz que gosta de imaginar todos esses filósofos juntos em um café, debatendo suas ideias. O existencialismo moderno nasceu assim mesmo e a cena é recriada ficcionalmente por Bakewell. Os franceses Sartre e Beauvoir conheceram a fenomenologia por indicação de Raymond Aaron durante uma conversa em um café. Sartre se sente fascinado por aquela filosofia que pode ser aplicada em qualquer coisa e vai atrás das obras do alemão Husserl – fundador desta escola. A fenomenologia foi essencial para o desenvolvimento do existencialismo sartriano e Sarah fará um ótimo trabalho conectando as duas abordagens.
O texto de Sarah Bakewell tem um teor literário bem forte. Além de ser formada em filosofia, a autora é professora de escrita criativa. Essa formação ajuda a construir uma história que apesar de densa em conteúdo, tem uma leitura fluída como a de um livro de ficção.
A obra também é um retrato histórico e político. Ao comentar a vida desses grandes filósofos, é necessário avaliar o contexto em que eles nasceram, cresceram e produziram seus principais trabalhos. A Segunda Guerra Mundial, o nazismo, o socialismo soviético, as revoluções coloniais e as revoltas de maio de 68 na França atravessaram a vida de várias pessoas deste livro.
“No Café Existencialista: O retrato da época em que a filosofia, a sensualidade e rebeldia andavam juntas” é uma ótima leitura para quem tem curiosidade para conhecer o que foi o movimento existencialista e suas principais figuras, além de agregar muita coisa nova para quem já conhece os principais personagens dessa história que deixou sua marca no pensamento da humanidade.
“Como Viver – ou uma biografia de Montaigne em uma pergunta e vinte tentativas de resposta” — Sarah Bakewell (Editora: Objetiva)
A proposta de “Como Viver – ou uma biografia de Montaigne em uma pergunta e vinte tentativas de resposta” está descrita no seu título. A autora Sarah Bakewell usa perguntas e respostas tiradas dos escritos do filósofo francês Michel de Montaigne (todos de sua obra mais famosa, “Os Ensaios”) e sua própria vida sobre o bem viver para narrar a vida deste que foi um dos pensadores mais originais de sua época – o século XVI.
A sua arte e sua vida se alimentavam dialeticamente. Seu modo de vida era sua filosofia. Ele não era um filósofo de conceitos abstratos, mas alguém que filosofava sobre sua vida – que ele definia como uma fonte inesgotável de investigação — em seus próprios termos e no estilo que ajudou a consagrar: o ensaio.

Montaigne era um grande admirador da filosofia antiga e três correntes no período helenístico inspiraram o desenvolvimento de sua filosofia: o ceticismo, o estoicismo e o epicurismo. Bakewell faz um ótimo trabalho em sintetizar os conceitos principais dessas escolas e como cada uma exerceu determinada influência no escritor francês.
“Como Viver – ou uma biografia de Montaigne em uma pergunta e vinte tentativas de resposta” é uma boa e refrescante leitura feita de uma forma leve. Além de conhecer a história do biografado Montaigne, nós conhecemos também a história da Europa – suas guerras, suas religiões, suas visões políticas, suas escolas filosóficas e também sentimos vontade de ler “Os Ensaios” direto da fonte (apesar de conhecermos diversos trechos dessa obra durante a leitura, nós ficamos com um gosto de quero mais).
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