Música

“Crônicas” do rapper Fleezus, uma celebração da maturidade

“Crônicas” – Fleezus

Crônicas“, terceiro álbum do rapper Fleezus, chegou às principais plataformas digitais no dia 8 de outubro. O projeto conta com 14 músicas no total e tem participações de artistas como Criolo, Febem, SD9, Hot, LPT Zlatan e Bradockdan. Os produtores envolvidos foram CESRV, El Lif Beatz e Paulo DK (Deekapz). Apesar dos colaboradores recorrentes envolvidos, ele soa como algo diferente e original em relação aos seus próprios trabalhos e à cena atual. É uma sonoridade classuda, que remete a algo mais sóbrio e adulto.

O disco é um salto qualitativo em relação à “Off Mode” (2023) — seu trabalho anterior que contou com nomes consagrados como Marina Sena, Luccas Carlos, Yago Opróprio e tem alguns bons momentos (como em “Reis & Rainhas” e “Norte”), mas não possui uma identidade marcante como “Eskibaile” (2020) do próprio artista. Também é curioso o fato de “Crônicas” ter apenas uma faixa a mais do que o anterior, mas, ao mesmo tempo, ser mais compacto. Nenhuma das composições chega a 4 minutos de duração e isso talvez explique esta sensação de concisão.

“Crônicas” é um retrato de alguém mais maduro refletindo sobre a sua própria carreira. É um projeto autoral por definição — a expressão da individualidade de seu criador está impressa no conceito. A capa, que foi feita por Madeintrash (Nelson Correa), é uma pintura abstrata e aberta a várias interpretações, passando uma ideia de que esta será uma experiência mais introspectiva e contemplativa. A velocidade dos beats também não é nem tão acelerada e nem tão lenta; ela segue o “Pace de Malandro” do MC do Jaraguá.

Capa de "Crônicas", novo disco do Fleezus
Capa de “Crônicas”, novo disco do Fleezus

Como bem definido por Fleezus em “Nois é Nois”, seu trabalho é como o de um artesão – um profissional que é um trabalhador e um artista ao mesmo tempo – que cria algo do zero com as próprias mãos. Zusflee tem talento tanto como MC quanto como cantor e consegue usar ambas as habilidades a favor dele neste projeto. Um exemplo desta versatilidade está presente em “2 Glock”, em que ele troca versos com SD9 — outro grande nome da cena contemporânea do grime. Ele rima cantando e abraça os gêneros que estão sempre presentes na sua discografia: o funk, o grime e o rap.

O rapper paulista também tentou fazer o mesmo em “Rivais” junto de VND, mas a química não foi a mesma e acaba sendo algo que, honestamente, não faria tanta falta assim na tracklist. “Pace de Malandro”, apesar da proposta interessante de ser um hino ao projeto de corrida de rua City Runners, tão caro a ele, destoa da estética do trabalho. O refrão soa como algo que Fleezus gravou há algum tempo, sem pensar neste álbum. “City Runners” de “Eskibaile” já havia cumprido muito bem essa função de homenagem.

As melhores faixas de “Crônicas” são “Jóia Rara” e “Passaporte”. “Jóia Rara” tem participação do Criolo. Ele faz o refrão – um dos melhores refrões do disco, que tem vários destaques neste aspecto – e também em “Quem Vai Rezar por Você”. O artista do Grajaú canta “Os moleque quer quer/ Só ficar bem bem/ Se não tá bem/ Não vai ficar pra ninguém“. É um verso bem direto que capta o sentimento de revolta que sempre caracterizou o rap nacional.

“Passaporte” serve tanto como um grande encerramento como a inauguração de uma nova fase musical e pessoal do Fleezus. A música é uma celebração do progresso que ele já alcançou até agora. Lucas já começa pesado: “Tá feito o check-in/ Pega o passaporte/ Destino Amsterdam/ Pra apertar da forte/ Bares e hotéis/ Como quer os bigode/ Reserva uma mesa/ Hoje promete“. Zusflee também solta a voz no refrão, o que torna tudo melhor.

CESRV e El Lif capricharam em todos os beats, mas aqui eles estão mais inspirados ainda e assinaram juntos o instrumental desta. A track termina com uma voz simulando uma aeromoça em um avião dizendo “sejam bem vindos a bordo do voo com destino ao sucesso”. Em “Crônicas”, Lucas embarca em uma viagem rumo a passos maiores em sua carreira e convoca o público a acompanhá-lo. Não sabemos como esta jornada irá terminar, mas a qualidade da trilha sonora será inegável.

Torne-se um apoiador da Pista no apoia.se clicando aqui. Você também pode apoiar o nosso trabalho e o jornalismo cultural independente com qualquer valor via Pix para apistajornal@gmail.com.

Leia também:

Deixe uma resposta