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“I Love LA”: 1ª  temporada prova que ambição feminina não pode ser tímida

Foto: via Instagram Jordan Firstman/HBO.

A primeira temporada de I Love LA

I Love LA”, de Rachel Sennott (“Bottoms”, “Shiva Baby”), lançou o último episódio de sua primeira temporada nesta segunda-feira (22) de madrugada e provou que ambição demais pode nos levar a escolhas erradas, mas que não é ruim ser ambiciosa e não desistir mesmo quando o universo te dá vários sinais de que algo “já deu errado”. E por mais que seja comparada com “Girls”, também da HBO, ela é muito mais que isso.

Satirizando a cultura de influencers de Los Angeles, a trama acompanha Maia (Sennott), que tem o sonho de ser uma grande talent manager, alguém que gerencia a carreira dos criadores de conteúdo. Ela tem um trabalho estável na agência Alyssa180, mas, no começo, não é reconhecida; namora Dylan (Josh Hutcherson), professor, e tem um grupo de amigos composto por Charlie (Jordan Firstman), estilista, Alani (True Whittaker), nepo baby, e Tallulah Stiel (Odessa A’zion).

No primeiro episódio, Maia não está em bons termos com Tallulah, que é uma amiga de longa data e com quem havia feito planos para irem a Los Angeles. Maia vai sozinha enquanto Tallulah fica em Nova York. Ela é uma influencer conhecida por ser messy, que rouba bolsa da marca Balenciaga de outra pessoa, que se envolve em polêmicas. Após ter sido deixada por um namorado e perdido boa parte do dinheiro, Tallulah vai para Los Angeles e Maia começa a agenciá-la.

Com muito humor e acidez, Tallulah já sofre seu primeiro cancelamento (por ter roubado a bolsa Balenciaga, aliás) e Maia não segue a cartilha que sua chefe propõe, que seria se desculpar pelo ocorrido com um textão ensaiado e que muitos de nós já vimos em feeds de influencers que sofrem pela cancel culture. Maia decide descobrir um podre da Paulena (a influencer que está cancelando Tallulah) e descobre, graças a Alani, que ela é de uma família famosa que fabrica armas e era dona de uma penitenciária. Colocando uma camisa branca de muitas centenas de dólares ao contrário, para dar um ar de roupa “velha”, Tallulah grava um vídeo expondo Paulena e o caso é resolvido.

Dessa forma, Maia toma iniciativa e já mostra que não irá fazer tudo que sua chefe Alyssa (Leighton Meester) quer que ela faça. No penúltimo episódio, Maia faz de tudo para que sua cliente consiga ser convidada para o jantar da Formé, evento que só pessoas bem importantes do meio hollywoodiano vão. Ela passa por cima das ordens de Alyssa e consegue o convite vindo de Antoine (Tim Baltz), o organizador do jantar.

Diferente de “Girls”, em que as personagens não têm essa ambição (Hannah desiste de um curso de pós-graduação; Marnie parece perdida boa parte da série até ir atrás da carreira de cantora; Jessa passa por vários bicos sem nunca buscar algo maior até a última temporada, em que resolve fazer um filme com Adam, por exemplo), aqui Maia faz de tudo para crescer desde o início, para se sentar na mesa dos grandes nomes, para realizar seus sonhos.

Seus sonhos infelizmente acabam ficando na frente de seu relacionamento com Dylan, que pede um tempo também no penúltimo e sétimo episódio. No oitavo, vemos ele sentindo falta de Maya e querendo falar com ela, mas quando percebe que ela não está, aparentemente, pensando nele (após ela ligar para Charlie e contar o que está dando de errado na viagem a Nova York para o jantar da Formé), Dylan resolve seguir em frente e ficar com sua colega de trabalho, Claire. E quem Maia já havia suspeitado que poderia ser alguém de quem Dylan gostasse.

Tudo dá errado em Nova York: Tallulah rouba um vestido que não era pra ser dela, fazem tatuagens enquanto bêbadas (Lulah no meio das costas e Maia bem na região da lombar), Maia tem um encontro sexual com Ben, que quer contratá-la para trabalhar com ele, e rola uma dinâmica de poder machista entre os dois, deixando Maia desconfortável e, no fim, mentindo para a amiga sobre o porquê de ter recusado a proposta de emprego. E, para piorar, quando estão indo ao jantar da Formé, toda a rua está bloqueada por policiais (pois o pai e ator famoso de Alani foi esfaqueado no braço por uma stalker e estão indo atrás dela), fazendo com que Maia e Tallulah não consigam pegar um carro e ir. Então, saem correndo para pegar o metrô, são xingadas de “vadias” por um homem dentro dele, e Maia termina dizendo como sente falta de Los Angeles.

A temporada acaba sem mostrar o que aconteceu no jantar, se deu certo; se Tallulah vai conseguir se consolidar como It Girl após ele.

A série tem seus problemas, que já foram apontados por telespectadores via redes sociais, por exemplo, a falta de pessoas latinas numa trama que se passa em Los Angeles e a falta de mais diversidade num geral. Tirando Alani, personagem fixa, só Mimi Rush, interpretada por Ayo Edebiri, e Quen Blackwell, interpretando a si mesma, são personagens negras de destaque da temporada, e que também não estão em todos os episódios. Mas, infelizmente e felizmente, já sendo mais que séries como “Girls”, que pecaram na falta de representatividade.

“I Love LA” vem para mostrar que uma mulher com ambição não é necessariamente impaciente ou ingrata, como a chefe (agora ex-chefe) de Maia diz a ela. Está tudo bem ir atrás de seus sonhos; o problema é como o sistema faz com que tenhamos que nos sacrificar, e todos à nossa volta, para conseguir atingir isso. Pois, se não, ficamos “para trás” e nossa oportunidade passa.

Tudo é sobre networking, contatos e se mostrar o tempo todo. Provar seu potencial, estar nos eventos certos, falar com as pessoas certas. E essa pressão toda acaba impactando nossa saúde física e mental, uma hora, como provavelmente iremos ver mais na segunda temporada, pois a série já foi renovada.

Maia não deixa de fazer o melhor para sua cliente mesmo com uma faca (literalmente) no meio do pé, pois se esfaqueia sem querer ao abrir uma caixa. Maia não deixa de comparecer ao jantar que irá alavancar a carreira de Tallulah, mesmo com a rua toda bloqueada para carros passarem. Maia faz de tudo e mais um pouco para conseguir o que quer e esse é um exemplo positivo para mulheres que sempre têm que falar baixo, ocupar pouco espaço e agradecer por serem vistas. Maia irá ser vista, queiram ou não, e não irá pedir desculpas por isso.

“I Love LA” está disponível na HBO Max.

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