Os Banshees de Inisherin
“Os Banshees de Inisherin” é o novo filme do diretor Martin McDonagh. O cineasta britânico é mais conhecido por “Na Mira do Chefe (2008)” — que conta com Colin Farrell e Brendan Gleeson como protagonistas, “Sete Psicopatas e um Shih Tzu” (2012) — também estrelado por Colin Farrell — e “Três Anúncios para um Crime” (2017) — obra estrelada por Frances McDormand e Sam Rockwell que levou dois Oscars para casa.
O elenco do longa lançado no Brasil em 2023 tem a participação de nomes consagrados como Colin Farrell, Brendan Gleeson, Kerry Condon e Barry Keoghan.
O trabalho recebeu 9 indicações no Oscar de 2023: Melhor Filme, Direção (Martin McDonagh), Ator (Colin Farrell), Ator Coadjuvante (Brendan Gleeson e Barry Keoghan), Atriz Coadjuvante (Kerry Condon), Roteiro Original, Tilha Sonora Original e Montagem.
A sinopse
Pádraic (Colin Farrell) e Colm (Brendan Gleeson) são dois amigos de longa data que moram juntos na fictícia Inisherin — pequena ilha localizada na Irlanda. O passatempo principal de ambos é se encontrar no pub local, sempre às 14h, para beber e conversar. A cena inicial mostra Pádraic fazendo seu ritual diário, ele visita seu amigo para fazer o convite de sempre. Colm, desta vez, o ignora friamente enquanto fuma um cigarro completamente sozinho. Este conflito norteia grande parte da história e gerará consequências em todo o povoado.
Colm simplesmente decidiu que não quer mais a amizade de Pádraic. Os dois têm personalidades completamente diferentes. Colm é um artista e gosta de compor músicas em seu violino. O próprio título do filme remete ao nome de uma canção que o personagem de Brendan Gleeson compôs perto do final da narrativa.
Pádraic não tem muitos interesses que coincidem com Colm. Ele é um homem simples e fútil, sem muitas aspirações profundas. O filme inteiro acompanha Pádraic tentando se reconectar com o amigo e buscando entender o motivo por trás daquela ruptura. Colm toma medidas drásticas para afastar o ex-amigo que escancaram o absurdo de toda a situação.
O pano de fundo da história é a guerra civil irlandesa (1922-23). O conflito é mencionado algumas vezes, mas sempre parece algo distante e que não impacta diretamente os personagens. A guerra é apenas mais um elemento que compõe a arbitrariedade e a condição absurda daquele mundo.
“Os Banshees de Inisherin” é como um conto visual sobre a solidão. Todos os personagens principais estão em busca de algo a mais para preencher o vazio que sentem em suas almas. Pádraic apenas quer ter seu amigo para conversar. Colm quer encontrar um sentido para sua vida por meio da música. Dominic (Barry Keoghan) — filho do policial local — e Siobhan (Kerry Condon) — irmã de Pádraic — também se sentem desolados em suas vidas e procuram uma saída para esta melancolia.
A comédia e o drama em “Os Banshees de Inisherin”
A comédia presente em “Os Banshees de Inisherin” tem um teor absurdo e os diálogos e as situações que os personagens enfrentam refletem isso. A trama principal parece ser algo muito banal para um filme de quase 2h, mas o diretor consegue entregar bastante coisa nesse meio tempo. A mistura entre comédia e drama é um dos trunfos do longa que transita muito bem entre os dois gêneros.
A cinematografia de Ben Davies é um dos destaques da obra desde o começo. Planos abertos evidenciam a beleza e a magnitude da ilha em que os antigos amigos de longa data vivem.
A fotografia combinada com a trilha sonora (feita por Carter Burwell e que rendeu uma indiciação ao Oscar) cria um aspecto de paraíso perdido naquele lugar. Há algo de melancólico em todo aquele universo desde quando nós o conhecemos.
Um retrato potente da solidão
A solidão parece estar presente até nos animais. Jenny, a burra de estimação de Pádraic, está sempre querendo companhia e tenta frequentemente entrar na casa em que seu dono mora junto com a irmã Siobhán.
Sammy, o cachorro de Colm também está sempre na sua casa. Os protagonistas gostam muito de animais. Mesmo brigados, os amigos sempre demonstram carinho e respeito pelos animais do outro.
Existe uma ternura que perpassa todos os personagens — sejam eles humanos ou animais — do pequeno vilarejo. Inisherin é um lugar com poucas locações para as pessoas socializarem e se reunirem, por isso todos ali se conhecem. O público acaba se sentindo íntimo daquele lugar e de todos os habitantes.
A direção, a trilha sonora, a fotografia, o roteiro e as atuações presentes em “Os Banshees de Inisherin” são elementos que constroem um retrato potente da solidão, da melancolia, do vazio existencial e da condição humana universal que reverberam no espectador mesmo depois do fim do longa.
O filme de Martin McDonagh está em cartaz nos cinemas brasileiros desde 2 de fevereiro.
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