O tão aguardado média-metragem de Pedro Almodóvar traz um enredo carregado de subtexto e tensão, além de uma espetacular entrevista com o diretor ao final.
“Estranha Forma de Vida“, novo média-metragem dirigido pelo aclamado diretor espanhol Pedro Almodóvar, une Ethan Hawke e Pedro Pascal em um faroeste sensual cheio de te(n)são. Na trama, Jake (Ethan Hawke), xerife de uma cidadezinha no sul dos Estados Unidos atribulado com um violento caso de assassinato , reencontra seu antigo amigo e parceiro Silva (Pedro Pascal) depois de um longo tempo. O que descobrimos é que há muito mais por trás dessa mera visita inesperada.
A trama é embalada pela canção de mesmo nome, “Estranha Forma de Vida”, composta pela cantora portuguesa Amália Rodrigues e interpretada na voz de Caetano Veloso.
O diretor espanhol já é conhecido por suas histórias envolventes e cheias de reviravoltas, mas é aqui onde experimenta uma série de novos elementos. O filme acaba sendo um laboratório para o diretor, sendo um espaço frutífero para experimentar o gênero faroeste junto à linguagem homoerótica e, de certa forma, trabalhar com a língua inglesa – algo até então realizado apenas em A Voz Humana, curta com a atriz Tilda Swinton lançado em 2021.
O calor do filme reside em tudo o que não é dito nem mostrado. Quando estão em tela, Jake e Silva transmitem uma grande tensão de algo mal resolvido – e ainda contundente. Em olhares e palavras soltas (como um “Não me olhe desse jeito”), ambos reencontram um no outro o desejo até então deixado para trás. Em cenas entrecortadas, vemos uma mistura de desejo, saudade e tensão movida por álcool. Álcool, que é apenas uma desculpa para não deixar calar os desejos do coração.
Porém, vemos todo o calor desse momento se esvair quando Jake confronta Silva sobre a motivação de sua jornada repentina, algo que desperta grande tensão na relação dos dois. A partir daí, o enredo se afunila de maneira que o conflito se instala e tem seu “fim” em uma ação inevitável e bombástica. Os dois antigos parceiros veem-se então em uma encruzilhada sem solução.
Da entrevista com Pedro Almodóvar
Interessado em fazer desse enredo um faroeste, Pedro Almodóvar compartilha algumas de suas reflexões e ações acerca de “Estranha Forma de Vida“, em entrevista inédita exibida logo após o curta.
Tendo como referência o faroeste do cineasta estadunidense John Ford e o western spaghetti do cineasta italiano Sergio Leone, Almodóvar interessou-se por subverter esse gênero, tão carregado de energia masculina e violência, em algo mais simbólico e, de certa forma, sensível. Explorar o amor entre dois homens em um ambiente de brutalidade e aridez tornou-se, então, uma bela experiência.
Seus protagonistas, Jake e Silva, foram pensados como homens muito diferentes, pois enquanto Jake não hesita em fazer cumprir a lei acima de qualquer coisa, Silva é totalmente movido pelo coração. Aqui, o ditado popular em inglês blood is thicker than water (“sangue é mais denso que a água”, em tradução literal) é levado às últimas consequências, pois o amor familiar é a principal motivação de vida de Silva.
Para o diretor, no final das contas, a beleza do filme reside no ato de mostrar um amor genuíno entre dois homens mais velhos, desatrelando sensualidade de juventude sem, contudo, “mostrar só por mostrar”. Acreditamos nesse amor e somos contagiados pela atmosfera de desejo e tensão, que são componentes muito fortes no média-metragem.
Almodóvar vai, ao longo da entrevista, revelando algumas de suas impressões sobre os protagonistas e os personagens ao redor, além de contribuir com diversos detalhes sobre como se deu a escolha do elenco e o desenvolvimento de cada personagem.
Ainda na entrevista, Almodóvar fala da escolha de figurino, de sets de filmagem e até dá detalhes sobre como daria continuidade à história caso o filme fosse um longa-metragem, deixando-nos curiosos e interessados em ver essa imaginária continuação se tornar realidade.
“Estranha Forma de Vida” estreia nos cinemas brasileiros na quinta-feira (14), distribuído pela O2 Play.
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