Cinema

“Nosso Sonho” e a arte de superação pela música

Nova cinebiografia sobre a saudosa dupla de MC's Claudinho e Buchecha encanta pela simplicidade e potencial de identificação

Cena de “Nosso Sonho” (Foto: Divulgação/Vitrine/Angelica Goudinho)

Nosso Sonho

Com Eduardo Albergaria na direção, “Nosso Sonho” é uma cinebiografia que, apesar de tradicional, tem um ar singelo que desperta emoções em quem assiste. Na perspectiva de Buchecha (Juan Paiva), o filme traz um pouco da história de sua amizade com seu querido faixa – como se chamavam os amigos – Claudinho (Lucas Penteado) e a escalada da dupla até a fama.

A narração de Buchecha é por vezes dispensável, mas é também um recurso interessante na construção do entorno do personagem, através do qual podemos conhecer os outros. Para ele, Claudinho é um anjo protetor, e segue exercendo esse papel até mesmo depois de sua trágica e prematura morte.

Nosso Sonho“, quase como uma história contada para crianças, possui uma leveza e um tom de simplicidade. Aqui, os percalços que os cantores provavelmente encontraram pelo seu caminho não são e nem precisam ser uma parte séria do filme. Mesmo quando fala de problemas, como a relação conturbada de Buchecha com seu pai, a trama não perde o tom proposto desde o início.

Em alguns momentos, temos até a impressão de que a ascensão de Claudinho e Buchecha foi algo espontâneo, de tão focado o filme está em se manter nessa moldura. Porém, por trás dessa camada, temos persistentemente a recordação da importância da música como um combustível para a superação da condição social dos cantores – como a obsessão de Claudinho com um carrinho em miniatura que representa seu sonho de ter um carro de verdade.

O carisma da dupla, brilhantemente encarnada por Juan Paiva e Lucas Penteado, é um dos pontos mais altos do filme. O elenco brilha como se fosse feito para esses papéis, e até mesmo Nando Cunha, interpretando o pai de Buchecha, entrega uma excelente performance, nos fazendo comprar seu personagem complicado. As mulheres, por outro lado, são apenas adições ocasionais – Rosana, interesse amoroso e, posteriormente, esposa de Buchecha, é quem mais consegue mover a trama.

Além disso, o filme consegue comover e fazer rir sem ser óbvio e artificial, além de optar por algumas estratégias narrativas interessantes. Em determinada cena, por exemplo, sabemos do sucesso da dupla através de cartões postais enviados por Buchecha, dispensando aquela famigerada cena de tour mundial, usada excessivamente por cinebiografias de artistas. E mesmo quando chega no assunto mais sensível da trama, a morte de Claudinho, ainda consegue comover sem cair em sentimentalismos forçados, oferecendo o silêncio como método de digestão da tragédia.

“O Claudinho me ensinou que a vida é assim, acaba de repente. Mas o que brilha na memória da gente, nem a morte pode apagar.”

Buchecha, “Nosso Sonho” (2023)

Claudinho e Buchecha possuem um lugar especial no coração de toda criança dos anos 2000 e, sabendo disso, o filme faz uso de seu poder nostálgico e nos inunda de canções que fizeram parte da nossa infância.

O funk salva vidas, salvou e continua salvando diversos jovens que sonham em superar a realidade periférica e construir um caminho digno através da música. A dupla de MC’s trouxe os holofotes para o mundo do funk com suas letras românticas e ritmo melódico e dançante, e abriram as portas para fazer do funk o que ele é hoje. A cinebiografia é uma grande homenagem a Claudinho, mas principalmente a esse ritmo tão subvalorizado no nosso país. Viva o funk, viva Claudinho!

Sobre a dupla

Claudinho e Buchecha (Foto: Divulgação)

Claudinho e Buchecha fizeram parte de uma famosa dupla de funk brasileira entre o final dos anos 90 e início dos anos 2000. Formada pelos amigos e cantores Cláudio Rodrigues de Mattos (Claudinho) e Claucirlei Jovêncio de Sousa (Buchecha), a dupla foi muito prestigiada em seu breve tempo de carreira, sendo trilha sonora indispensável em bailes funk e festas de família.

No auge da carreira, em 2002, Claudinho sofreu um grave acidente de carro na Rodovia Presidente Dutra, no Rio de Janeiro, enquanto voltava de uma turnê, o que ocasionou sua morte prematura, aos 26 anos. Desde então, após um longo período de afastamento, Buchecha contou com o apoio de família, amigos e fãs, e encontrou forças para continuar cantando.

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