“Rodeo”, o primeiro filme da diretora francesa Lola Quiqovoron
“Rodeo” acompanha Julia (Julie Ledru), uma jovem moradora da periferia francesa que vive de roubar motos. Desde o começo da narrativa fica claro que a relação com sua família e outras pessoas como seus vizinhos não é das melhores. Não é informado para a audiência o que motivou essa ruptura, fica a cargo de sua imaginação preencher esse vazio.
O filme foi dirigido pela francesa Lola Quiqovoron, que também escreveu o roteiro junto com Antonia Buresi. Este é seu primeiro longa. Anteriormente ela dirigiu dois curtas: Fils du loup (2015) e Au loin, Baltimore (2016).

A câmera na mão é utilizada na maior parte da obra. Seu efeito, além de dar um ar mais realista a história contada, é deixar o público no mesmo nível dos personagens. O espectador se sente uma testemunha em primeira mão da narrativa.
A vida da protagonista está em andar de moto. A sua ideia de liberdade é indissociável desse hobby que ela mantém desde que a conhecemos. A adrenalina também é algo que a acompanha toda vez que está pilotando.
Ela conhece um grupo de motoqueiros que também vivem de praticar pequenos crimes. Aos trancos e barracos ela se torna uma integrante daquela comunidade, mas tem que enfrentar muitas adversidades para ser aceita neste meio dominado por homens. A personagem interpretada por Julie Ledru começa a prestar seus serviços para Domino, o líder da gangue e o dono da garagem em que todos guardam suas motos.
Julia é uma mulher tentando conquistar e afirmar sua liberdade em um universo masculino. Este é o ponto principal do filme.
“Rodeo” tem uma aura de juventude que permeia toda a obra. Não é só a idade dos personagens que causa esse frescor, mas todos os elementos utilizados pela cineasta Lola Quiqovoron: a trilha sonora com músicas contemporâneas e urbanas (trap, hip-hop), o uso do figurino, a própria câmara na mão já mencionada que dá um dinamismo maior para a história, os diálogos rápidos e o ritmo da montagem também.
É de se notar que a estética retratada neste longa francês remete um pouco ao Brasil. As roupas dos personagens mostram a similaridade da juventude periférica com a brasileiras. Julia está quase sempre vestindo alguma camisa de um time de futebol, assim como os outros personagens. Essa vestimenta é comum em qualquer quebrada do nosso país. Além disso, a música “Corpo Sujeito” (ouça aqui) com a participação da cantora brasileira Cibelle, é tocada em uma das primeiras, mais bonitas e mais longas cenas do filme.
Apesar do realismo que permeia grande parte da narrativa, existe também influência de um cinema mais surrealista. Além da cena final, há várias cenas de sonhos da protagonista neste estilo.
“Rodeo” é um filme sobre a busca universal pela liberdade e sua afirmação. Destaca-se o fato de esta ter sido a estreia de Lola Quiqovoron na direção de um longa. O trabalho, que venceu o prêmio Coup de Coeur no Un Certain Regard do Festival de Cannes 2022, faz parte da programação do Festival Filmelier no Cinema que começou no dia 19 de Abril.
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