Cinema

“O Último Dia de Yitzhak Rabin”, filme do israelense Amos Gitaï, chega aos cinemas brasileiros pela primeira vez

O Último Dia de Yitzhak Rabin

O filme “O Último Dia de Yitzhak Rabin” do diretor israelense Amos Gitaï estreia nos cinemas brasileiros em circuito limitado nesta quinta-feira (02/11), com distribuição da Synapse Distribution. O thriller político acompanha tanto os fatos que antecederam quanto os que sucederam o assassinato de Yitzhak Rabin, primeiro ministro de Israel em dois mandatos (1974-1977 e 1992-1995). O crime foi cometido por um estudante ligado a um grupo religioso de extrema-direita. Em 1994, um ano antes de sua morte, Rabin venceu o Prêmio Nobel da Paz, por sua contribuição pela construção da paz entre israelenses e palestinos. Junto com o político israelense Shimon Peres e o líder palestino Yasser Arafat, ele foi uma das figuras mais importantes do processo que ficou conhecido como Acordo de Paz de Oslo. O longa busca reconstruir como se construiu a atmosfera política que tornou possível este fato político que mudou o rumo da história.

A obra concorreu ao Leão de Ouro de Melhor Filme no Festival Internacional de Veneza de 2015 e venceu outras duas categorias: “Golden Mouse” e “Human Rights Film Network Award”, prêmios honorários cedidos a partir da avaliação de críticos de cinema. O longa também participou do Festival de Cinema de Munique.

Pôster de "O Último Dia de Yitzhak Rabin", filme de Amos Gitaï (Foto: Divulgação)
Pôster de “O Último Dia de Yitzhak Rabin”, filme de Amos Gitaï (Foto: Divulgação)

Para o diretor, desde o começo do filme, o culpado não parece ser apenas a pessoa que apertou o gatilho, mas uma parcela considerável da sociedade israelense. Gitaï usa as duas horas e meia de duração do longa para evidenciar este ponto de vista pessoal. Ele utiliza registros de arquivo como vídeos verdadeiros das manifestações que aconteceram na época e imagens dos líderes políticos em ação. O uso desse recurso característico de documentários traz um tom ainda mais realista para o filme. Todos esses registros históricos são complementados pela recriação dramática de outros eventos importantes para entender o caso, como a comissão responsável pela investigação deste crime. É através dessa construção que o cineasta israelense sustenta o discurso e as evidências de que o crime foi resultado de uma política e de um discurso que estavam impregnados em uma parcela da sociedade israelense há algum tempo.

Há também uma atmosfera de conspiração e mistério que todo bom thriller deve ter. Os erros de procedimento para proteger o primeiro-ministro, que parecem facilmente evitáveis quando analisados em retrospectiva, são expostos na íntegra e denunciam a omissão ou no mínimo a negligência das autoridades para proteger o líder máximo do Estado.

O filme traz muitos temas e tópicos que ainda são motivos de debate político atualmente, principalmente após a nova escalada do conflito entre Israel x Hamas. Perto do final do filme, o cineasta mostra uma manifestação de oposição ao governo de Rabin em que estes o acusam de ser um traidor do sionismo. A questão dos assentamentos israelenses em território palestino pós-1967 e a narrativa político-religiosa que os sustentou é colocada em cheque, enquanto o diretor e os integrantes da comissão encarregada de investigar como o crime foi possível cutucam essa ferida de forma ostensiva. A radicalização religiosa e a ascensão da extrema-direita parecem conectados nessa sociedade israelense retratada no filme. Benjamin Netanyahu, atual primeiro-ministro de Israel, era uma das figuras mais importantes da oposição e também foi fundamental para esse processo. O longa também não o isenta de sua culpa e responsabilidade.

“Anos se passaram e eu estava interessado em dissecar os motivos que levaram à morte de Rabin. As perspectivas de paz desapareceram com o acontecimento nos anos 1990, mas os homens que tornaram possível a morte do primeiro-ministro ainda estão por aí. Na verdade, alguns deles estão agora no poder”, diz o cineasta Amos Gitaï.

Apesar do título do filme, o personagem principal da história contada não é Rabin, mas a sociedade israelense, seus vários lados e contradições. “O Último Dia de Yitzhak Rabin” é um ótimo filme de Amos Gitaï, que nos traz mais perto da realidade e da história recente de Israel. Nós conhecemos um pouco mais desta região e seus conflitos internos. Os fatos retratados ecoam até hoje na política do país e precisam ser conhecidos e estudados para conseguirmos chegar a algum tipo de entendimento sobre como chegamos aonde chegamos.

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