Depois da pré-estreia mundial (simultânea em mais de 50 países) em que ficou no ar por 24h na plataforma de streaming MUBI, finalmente o mais novo filme de Pablo Larraín chega aos cinemas brasileiros.
Larraín vem se destacando no cenário latino-americano em parcerias de sucesso – como com o aclamado ator, diretor e produtor Gael García Bernal – foi indicado ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro. O filme “No” (2012) narra uma audaciosa campanha contra a direita e a ditadura ultraconservadora e assassina de Pinochet, que governou o Chile durante os anos 70-90.
Recentemente, Larraín voltou a repetir a dose da parceria de sucesso, mas agora com outro Chileno: o diretor Sebastián Lelio, com esse diretor, Pablo trabalhou na produção de “Uma Mulher Fantástica“, que em 2017, rendeu ao Chile o seu primeiro Oscar na categoria de Melhor Filme Estrangeiro.
Em “Ema“, Pablo Larraín, volta a trabalhar com Gael García. Sucesso de crítica pelo festivais que passou em 2019 (como Veneza e Berlim) o filme teve os seus planos de lançamento frustrados em 2020 devido à crise da COVID-19, mas agora chega aos cinemas buscando um novo público, que provavelmente vai entrar no ritmo, na sexualidade e na espiral envolvente de Ema, a protagonista do longa, ao lado de Gastón (Gael).
A narrativa e os personagens de Larraín geralmente são vívidos, intensos, transgressores. Em “Ema” não é diferente. Aposta certa para o tempo em que questionamos o poder psíquico da liberdade, o diretor entrega aqui uma narrativa que nos leva a uma profunda espiral vertiginosa em busca da felicidade e da parte que falta, é uma investigação do corpo e do sentimento como movimento cíclico de redescoberta.
Na primeira cena do filme, com um corte de câmera vividamente surreal, já temos o insight do que a protagonista Ema representa: é a metáfora da transgressão da ordem social e da moral machista e limitante no que tange o desejo. O semáforo que se incendeia em contraste a um céu pré-amanhecer funciona como um entrecorte entre cores quentes e frias, com o qual no contato com o ‘Outro‘ ou com a dança, o corpo de Ema entra em combustão.
Já quando ela se encontra só, são os seus demônios pessoais que a atormentam: a trilha para, o rosto se torna enigmático e na transição do silêncio vemos o mundo de Ema passar pela janela do ônibus. Lá fora, pulsa uma cultura nova, que nasce da periferia, enquanto que na companhia de dança, regida por Gastón, ela precisa focar na tradição da dança contemporânea e nos estigmas postos em cima da arte de rua. O que nossa protagonista queria era se sentir viva de verdade.
Os momentos de silêncio são essenciais para a organização psíquica. É nesses momentos que vemos que Ema procura se encontrar consigo mesma e com os traumas do passado ou então superar um possível relacionamento abusivo. Acompanhamos uma busca frenética pela liberdade, das mais diversas formas possíveis – seja a psicológica (a culpa do abandono pelo filho adotivo), a liberdade sexual do corpo, do desejo ou então da massificação social e cultural, esta última que se manifesta através da rigidez com que Gastón dirige a companhia de dança na qual sua noiva, Ema, é a dançarina principal.
Ema deseja que seu corpo dê voz a nova cultura que surgia nas periferias da Colômbia: é no reggaeton que ela encontra a expressão e o sentimento que a humanizam, para assim ir atrás da outra parte que falta; é no sentimento de poder se sentir mãe que ela se contempla, em que com olhares que (quebram a expectativa e a quarta parede do cinema) no final nos julgam.
É nesse momento derradeiro que nos questionamos se estamos mesmo prontos para o amor e para a liberdade dos tempos modernos.
O vínculo entre uma mãe e seu filho é a força mais forte do universo. Interfira e você pode se queimar.
Katie Walsh, Los Angeles Times.

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Fantástico — quero muito assistir!